ACERCA DA FÉ

Para mim, a fé é como um pedaço de madeira para um náufrago.

Imagine que você está em um barco, e esse barco passa por uma forte tempestade e acaba naufragando. A vítima, no caso você, estaria um pouco distante da praia. Então, no seu desespero, você clama por uma ajuda divina, e essa ajuda vem na forma de um pedaço de madeira da qual você se agarra com todas as suas forças. E esse pedaço de madeira te faz sobreviver. Sentindo-se grato, você dedica essa salvação ao divino.

Essa alegoria seria aplicável em qualquer situação que nos ocorra. Uma grande decepção, uma perda de um ente querido, entre outras experiências que nos cause sofrimento.

As pessoas recorrem à fé para ajudá-las a aliviar sua mente, para ter algo em que se apoiar. Em momentos de angústia, é normal querermos que o tempo volte naqueles dias em que não precisávamos nos preocupar com nada, que tínhamos alguém que resolvia nossos problemas, é normal querermos voltar à infância, onde nossa única responsabilidade era brincar e ser feliz.

E o problema desse pedaço de madeira é que ele não nos permite assumirmos responsabilidades. Confiamos tanto nele, confiamos tanto que alguém vai resolver os problemas para nós, que esquecemos que nós precisamos crescer devidamente e resolver nossos problemas por nós mesmos. Às vezes precisamos nadar, por conta própria, porque enquanto estivermos confiando que alguém ou algo irá resolver as coisas por nós, estaremos completamente dependentes, sem capacidade de agirmos e aprendermos os melhores caminhos a seguir.

Eu sei, é uma linda ilusão acreditar que vamos ter sempre alguém que vai nos fazer atravessar o Vale da Morte em segurança. Mas a verdade é que diante desse vale é somente você e sua dose de coragem.

É dolorido olhar sobre esse ângulo, porém a verdade é que nessa jornada, o caminho é individual. Por mais que encontramos pessoas queridas e amigas no trajeto, no fim todos estamos sozinhos, descobrindo nossos medos e fraquezas, nossas dores e alegrias, nossas forças e nossa capacidade de encarar e vencer a vida, por mais que apanhamos um pouquinho dela.

Acredito cada vez mais que a fé é aquilo que Marx escreveu no século XIX: “A religião é o ópio do povo”. Ou seja, ter fé pode até te fazer ter um pouco mais de ânimo, entretanto, no fim, será você mesmo seu próprio pedaço de madeira.