O passado ou o futuro?

O que o homem pode agarrar de si?

Como pode agarrar-se ao passado agora inexistente?

Como pode agora apegar-se ao futuro ainda inexistente?

O agora fugaz, mas real instante, fugaz que é se vai num instante.

A que se apegar? Em que se agarrar?

Ora! O ter nem se considera;

não mede, não classifica, não passa de uma quimera.

Resta-se o ser. Mas ser o quê?

Ao afamado, um lugar na história;

Ao não afamado, nem essa falsa glória...

O que resta, então?

O passado não existe.

O futuro não existe.

O presente se esvai ao passado e o futuro não é alcançado.

O sempre presente é um lembrete de que o tempo mata.

O tempo é o vilão?

Como vencer o tempo, então?

Entregar-nos-emos ao fatalismo do tempo?

Há tempo para o tempo ser evitável e evitarmos o tempo?

Poderá o homem transcender o tempo para que, ao findar o tempo, possa estar além do tempo?

O homem não pode se agarrar em nada de si.

O que é eterno?

Não tendo início, nem fim, como pode ser compreendido?

O homem deve agarrar-se ao Eterno, a quem é eterno; então não será mais afetado pelo tempo... nem pelo não saber em que, ou em quem se agarrar.

2023