de volta
há pouco tempo me veio a ideia de resgatar meu eu de 15 anos, “a pior de todas”. não sei o que eu quis dizer com “pior”, essa palavra é muito relativa, e eu nem me lembro direito dessa minha versão.
li alguns textos antigos e me impressionei com a sensibilidade que eu tinha a vida. me perguntei quando e onde perdi aquilo. não pareciam palavras minhas, só pude quase sentir, quase entender.
lembro que me incomodava que alguém poderia ler o que eu escrevia e não compreender, sair cru da experiência, de nada adiantar. agora cá estou eu mesma, me lendo como se fosse outra pessoa. mas, enfim, o tempo passa, inevitavelmente quase tudo muda. sobra a tentativa de entender o que fica e, ironicamente, também a luta constante de tentar mudá-las. esgotando o mesmo processo over and over again, achando ruim quando algo se altera (ou se perde). então, não devo reclamar, isso acontecerá de novo, e eu quero.
o ponto é: depois que viramos adultos muita coisa foge da gente. não sei onde deixei o que havia de mais gostoso. eu era tão vulnerável! não sei como conseguia. era natural e lindo.
quero voltar a ver como eu via, mas não vou.
não sou ela mais - mas tento entender que, de outra forma, sou ela também.
quero não um formato, mas o estado em que se sinta que se pode ser quem se é, eu e o outro. quero o aval para poder decidir por estar sozinha, justamente por saber que não sou.
quero um romance que explica muito, explique tanto, que seja impossível explicar a terceiros, mas que mesmo assim só a evidência baste e o sustente, porque tá tão na cara, que simplesmente acreditamos. é imposto.
pelo reforço de que posso ser quem sou, e não ser, quando eu quiser; ficar, porque sei o caminho para ir embora; e me perder, porque não preciso que me resgatem. eu volto, e eu vou.
não é você, nem aquela. sou eu.