A PRÁTICA CLÍNICA E DO CUIDAR

O exercício de análise e de compreensão do outro na clínica é uma missão, uma tarefa lúcida que demanda uma certa atenção com os rumos de sua vida, sem o qual tudo não passa de uma mera obrigação e questão monetária. Além da sensibilidade e da técnica, é importante o calor humano que propicia o pano de fundo de um trabalho terapêutico instigante. Além de uma formação filosófica, antropológica, psicológica e científica de um modo geral, estão assentadas as raízes de uma ética que se insere na práxis de todo terapeuta no seu intento de promover a saúde em todas as dimensões do humano. E antes de qualquer saber técnico e científico, que são evidentemente de suma importância para o trabalho do psicólogo, existe a inter-ação de acolhimento e solidariedade que progressivamente se edifica ao longo do tempo com aquele que apresenta um problema, um sofrimento, uma dor, um trauma, uma fratura no seu ser. Para isso, não basta somente um manual de como conduzir uma sessão, o que tem lá o seu valor; mas também o rigor de um sentido de alteridade que abre os caminhos do amor, da com-paixão, da preocupação e do cuidado enquanto instâncias norteadoras de uma ontologia da relação tal como expunha Martin Buber no seu livro Eu e Tu. A ética que habita a alma do psicólogo é o seu alicerce, especialmente nos momentos em que ele sente quando é preciso escutar mais do que falar e, também, dizer algo quando os espaços do silêncio permitem que palavras sejam pronunciadas com delicadeza e franqueza. Acolher o outro na sua singularidade e diferença: eis a poesia de uma relação psicoterapêutica onde a compreensão acima de tudo produz a liberdade de trazer à tona os sintomas e os sofrimentos que ameaçam a integridade e a saúde de uma vida humana.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 31/01/2023
Reeditado em 01/02/2023
Código do texto: T7707841
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