Tempo e memória
O tempo em metástase. Tudo em velocidade máxima para o fim. Nada mais num ritmo possível ; tudo veloz e efêmero. Tudo sem possibilidade de permanência. Nada para o amanhã, não. Somente o hoje, o aqui e agora, sem possibilidade de conservação, não. A vida sentida em sua máxima diluição. O tempo se esgota tão logo o segundo seguinte se inicia. Não há memória. Não há testemunho. Não há qualquer possibilidade de referência ao que se possa recordar. Tudo ao esquecimento. A impossibilidade da permanência como registro do que se viveu, não é possível. O tempo presente, e só ele, em toda significância e alcance, se vive como o último possível. Carpie Dien! Eis a máxima do mantra. O hedonismo como objetivo único e final. O efêmero, conservado em si até que nada mais resta.
O dia seguinte não era um dia seguinte de acordo com a cronologia. Haviam - se passado dez dias. Dez dias em ritmo tão intenso, tão veloz, que aos olhos normais de um mortal, parecia que haviam se passado trinta minutos; mas não. Tudo acelerado como num foguete a caminho do espaço. Tudo rápido e sem chance de guardar na memória algo que pudesse ser resgatado num momento de nostalgia, ser revivido, ao menos por breve instante, como possibilidade de nova vivência. Mas não.
A mulher grávida. A mulher grávida traz no ventre nova possibilidade. Se espera que o nascimento signifique a possibilidade de novas realidades que somente uma criança pode trazer. Eis o desejo. O desejo de permanência em contraste com o de diluição, eis o significado da vida. Assim é, assim deve ser. A filosofia do devir, da possibilidade sempre presente, sempre latente, assim é. O conflito, a luta do tempo, que avança, e a da memória, que conserva.