I-LXXXIV Jaezes de vida e morte
Perdi tudo que me deu o mundo,
corri para o fim a fim de dizer-lhes muito:
Pouco respeito, muito castigo,
por que fazer de mim perda
de um tempo infinito?
Se só perdoo para que me perdoe,
por fazer de mim mais do que pretendi quando nasci,
por sofrer estando na média, por chorar na morada,
e mal engolir a comida que é dada.
Falando assim, até soa ter sentido o que fazem por mim.
Até mostro perceber, sem querer, que meu maltrato é mais
por dizer do que por viver.
Queria ir-me sem ter que escrever, mas é ingratidão
que me puxa o chão. Pelo menos, por honestidade,
digo como as coisas são, temendo não ser digno
de um fim ainda com paixão.