Aquilo que levaremos

Dizem que não precisamos de muito para sermos felizes. Eu acredito nisso. É claro que é confortável ter uma conta razoável no banco que nos permita pagar nossas contas, aproveitar as diversões da vida e ainda montar uma reserva para momentos de emergência. Mas acredito que o suficiente já seja o bastante. Então realmente não precisamos de muito para sermos felizes. E não precisamos de muito porque não levaremos conosco, na longa viagem pela estrada da Vida, aquilo que preenche nosso bolso ou faz brilhar nossos olhos. Não levaremos aquilo que é reluzente por fora, embora vazio por dentro. Levaremos conosco, até o ponto da nossa travessia, aquelas coisas que preencheram nosso coração, que o fizeram balançar, agitar-se, que nos trouxeram aquela sensação de que o segredo de uma vida feliz está nas coisas simples que, de tão simples, tornam-se impagáveis pelo ouro ou pela prata.

“E o que a gente leva não é o que encanta os olhos, mas o que toca o coração” (Karla Tabalipa)

Você tem tocado as pessoas no coração? Você tem se permitido a ser tocado no coração?

Estamos vivendo de uma forma muito equivocada acreditando que quantidade seja sinônimo de uma vida boa ou feliz. O que não é verdade. Aliás, não passa de uma grande e profunda ilusão que engana a tantos e manipula a muitos. Acreditando nisso, que as riquezas terrenas façam alguma diferença porque atraem nossos olhos curiosos, desperdiçamos aquelas coisas que atraem nossas almas sempre tão inclinadas àquilo que a materialidade da vida não pode compreender. São as coisas sutis que nos tocam e nos inspiram. São as coisas mais discretas que nos apaixonam e encantam.

É um olhar compassivo. É um abraço inesperado. É um carinho suave em nosso rosto. É um dedo compreensivo que colhe nossa lágrima quando fracassamos em nossa luta furiosa para que ela não seja derramada. É um ombro amigo que ao final do dia nos é oferecido para que descansemos das batalhas da vida. É uma escuta sem julgamento que se dispõe a nos ouvir em meio a um mundo tão barulhento. É um “eu te amo” sonolento naquela manhã de domingo. É um aconchego acalentador naquela manhã fria de sábado. É um “como eu amo você, mamãe” dito sem pretensões, de repente. É um “você é meu herói, papai” pronunciado sem cerimônias, inesperadamente. É um “como tenho orgulho de você, meu filho” confessado sem qualquer condição. É um “esse é o meu neto” falado a plenos pulmões e com orgulho nos olhos diante dos amigos de longa data. É um “obrigado por ser meu amigo” declarado quando só aquela pessoa, dentre bilhões, parece ser capaz de nos compreender em nossa dor. É a brisa suave que nos acalma nos dias de calor. É a chuva serena que nos ajuda a dormir nos dias de inverno. É aquela sensação de que valeu a pena não ter desistido porque teríamos perdido todas essas coisas, e tantas outras, que são feitas sem motivo, sem objetivo, sem ambição. São feitas com o propósito de tocar o nosso coração.

São coisas inesquecíveis. Grandiosas. Que não terão, para outras pessoas, o mesmo significado nem o mesmo valor que tiveram para nós. Coisas que tocaram o nosso coração. Que alegraram a nossa alma. Que vivificaram o nosso espírito. Coisas que talvez apenas nós sentimos. Coisas que nos emocionaram no momento no qual aconteceram. Coisas que espantaram aquele que nos assistia naquele momento de emoção. Coisas que o fizeram nos perguntar porque estamos chorando ou emocionados. Coisas que nos fizeram olhar no mais íntimo de seus olhos e declarar a mais verdadeira declaração de amor: “obrigado por existir!”.

Levaremos conosco aquilo que nos faz agradecidos por nós mesmos existirmos.

Pelo que você é realmente grato?

(Texto de @Amilton.Jnior)