a eterna cicatriz
você foi uma faca, cortante e cicatrizada no lado esquerdo de meu peito. você foi a possibilidade da vida e a concretização da morte metafórica humana. cravado pelos teus olhares de águia, ficou o meu organismo.
nesses dias me pergunto: será somente uma má relação com o passado? com esse nosso passado, que somente a nós diz respeito e que somente a terceira pessoa, da soma resultante entre as duas (eu e tu), é capaz de afirmar a autêntica e verdadeira realidade.
soma esta que se perdeu, mas que atuou de formas genuínas, até o momento em que a cura virou veneno. mas te jurei honestidade, e fui fiel até o último segundo.
sagrada fidelidade, a reciprocidade genuína que solidifica as relações humanas. no egito antigo chamavam de maat, esta força condizente com a verdade, a justiça, com a ordem de todo esse caos existente.
mas minha visão, não era a sua. e foi assim, até virarmos o resumo de uma guerra, travada sabe-se lá o porquê. até virarmos a própria negação de tudo. sentimento de posse? flor e espinho? fico me perguntando qual o melhor samba que possa traduzir todo esse turbilhão de sentimentos, brotados de minha mente e surgidos pelo teu simples existir. foi difícil, é difícil.
o que lembrar deste passado? a dor? somente a dor. eu te amei, mas você amou? acreditava que sim, enquanto o entorno e a totalidade de meu redor diziam o contrário. é difícil caminhar com essa mágoa no coração. e eu só gostaria de saber o que você pensa… acho que eu nunca me dei bem com os mistérios. aliás, a única perspectiva de cura que observei na vida foi quando ocorreu-me o afago com o mistério. e não consigo abraçá-lo quando penso nessa relação, acho que ainda está no campo do vir-a-ser; o atual tempo histórico não permite essas avaliações.
talvez o grande pecado tenha sido ter lhe encontrado. talvez você não pertença ao meu tempo, talvez isso nunca tenha resposta; pelo menos não neste plano.