Feridas que esclarecem
Se eu dissesse a você que agradecesse aos problemas da vida qual seria a sua reação? Talvez você me responderia com curiosidade, querendo entender o que eu quis dizer com tal conselho. Ou talvez você desse uma risada irônica, incrédulo diante do que eu falei. Ou ainda agiria com certa impaciência e me contaria o quanto suas dores são amargas demais para que simplesmente agradeça por elas existirem. Eu entendo tudo isso. Somos humanos. Detestamos o incômodo. Se pudéssemos viveríamos em um estado de constante alívio e descanso. No entanto, não é assim que as coisas funcionam e as adversidades existem nos importunando a todo momento. Meu convite, nesse sentido, é para que as encaremos por perspectivas diferentes tornando nos capazes de ressignificá-las!
“Há feridas que, em vez de abrir-te a pele, abrem-te os olhos” (Pablo Neruda)
É nos momentos de dor e dificuldade que descobrimos, dentre outras coisas, o tamanho da nossa força. Às vezes nos julgamos tão incapazes e insuficientes. E parece que nos afastamos de nossos sonhos e projetos porque não conseguimos encontrar capacidade dentro de nós que nos fizesse alçar voos vistos como ousados. Só que então, lembrando que na vida estamos vulneráveis às intempéries, somos colocados em situações desagradáveis, quando precisamos fazer uso de recursos que nem imaginávamos possuir e, assim, superamos tais dores. Pode ser que a ferida esteja sendo vista na nossa pele. Mas seu efeito foi além. E agora nossos olhos se ampliaram: sentimo-nos fortes. Impelidos ao enfrentamento, não tivemos escolha. Batalhamos. E, ainda que não tenhamos saído ilesos, ao menos superamos. Descobrimos que, sim, temos força, temos capacidade, podemos... A venda de nossos olhos, colocada por nós mesmos em uma postura de autossabotagem, é enfim lançada fora e a luz retorna ao nosso caminho.
Para além dessa autodescoberta, é nos momentos de aflição, angústia, desespero e dor que também descobrimos sobre a qualidade e verdade das relações que mantemos em nossas vidas. A depender da forma como seremos acolhidos por quem nos cerca diante do nosso sofrimento, saberemos se realmente se importam, se preocupam, se interessam com o nosso bem-estar. Porque em muitas vezes o que acontece é que estamos rodeados de gente egoísta, curiosa, interesseira que, ao perceberem que de nós, quase afogados num mar de dificuldades, nada temos a oferecer, afastam-se insensíveis.
Só que a história não acaba por aí. Podemos ficar frustrados, revoltados e entristecidos por descobrir que nunca fomos realmente amados por aquelas pessoas que tanto valorizámos e considerávamos. Essa abertura nos olhos pode ser incômoda. E talvez até fiquemos em negação, criando justificativas ingênuas embora saibamos que aquelas foram as escolhas que realmente gostariam de ter feito. No entanto, mesmo que abatidos e nos sentindo traídos, nossa solidão diante da batalha se esvai quando, de onde menos esperamos, a partir das pessoas que menos imaginamos, recebemos a força necessária para seguir em frente! É quando nossos olhos se abrem e compreendemos que talvez tenhamos desmerecido quem, desde sempre, esteve lá por nós.
Então eu não quero que desconsidere a sua dor. Não quero que olhe para a ferida que arde e, ao invés de chorar, eleve gargalhadas e meramente agradeça pelo infortúnio. Quero apenas ajudar você a suavizar essa angústia propondo novas maneiras de dar sentido às experiências da vida. A dor está aí. Eu entendo o seu lamento. E valido as suas lágrimas. Mas lhe ofereço uma atitude corajosa: o que pode aprender com esse infortúnio? Que sua força é maior do que você pensava? Que há pessoas especiais para as quais seus olhos e sentimentos pouco se voltaram? Quando a dor passar e a paz retornar siga em frente tendo como norte as novas lições da vida!
(Texto de @Amilton.Jnior)