Desabafo

Tem sido um tanto desconfortável para mim nestas últimas semanas. Vez ou outra vem até mim aquela antiga vontade que tinha de escrever sobre algo. Infelizmente me parece que funciono apenas como um relógio mecânico, que precisa de uma força externa para que funcione. Talvez, quero dizer, com toda certeza, tenho pouquíssimas companhias, ou até mesma nenhuma, das quais me sinto à vontade para conversar, desabafar ou debater sobres assuntos de mútua admiração. Por tempos ansiei por alguém, hoje dispenso apresentações. Espero um dia ter uma resposta concreta para isto, mas existe algo em mim que me torna bastante sensível em apegar-me em coisas, que talvez sejam irrelevantes, a tal ponto de se tornarem um vício, no qual me fazem esquecer de minhas obrigações, fazem-me perder a vontade de conquistar, de seguir em frente, de evoluir etc. São a minha âncora. Sinto que estou em uma fase, zona ou o que quer que seja, na qual não consigo dar o meu melhor, ir além dos meus limites, embora tais limites não possam ser mensurados, pois sei de minha capacidade intelectual, reconhecendo minhas limitações. Oportunidades já perdi, conhecimento já desperdicei.

Como no livro de Richard Bach, onde Fernão enxerga um propósito muito maior para a sua existência fazendo muito mais do que qualquer outra gaivota ousou fazer, eu me recuso a utilizar de minha capacidade e inúmeras ferramentas que temos hoje disponíveis. Cada vez mais recluso fico e quero estar, cada vez mais me identifico menos com as “tribos” ao meu redor, cada vez mais me distancio de meus familiares. Este último, luto para que não aconteça, muito embora não tenha a mesma empolgação dos demais. Ainda há coisas que quero conquistar, conhecer, aprender e vivenciar. Apesar de triste pelas mazelas do nosso mundo, gosto da vida e tenho medo de perdê-la. Entretanto, da forma que estou vivendo, não será mesmo que eu já esteja perdendo-a? Existem coisas que me deixam feliz, que me fazem bem. Isto demonstra que ainda não é tudo, que ainda vale a pena. Enfim, há muito tempo eu não escrevia. Por muito tempo parei com a leitura. Espero que este desabafo me faça retornar a estes hábitos que tão bem nos fazem.