UMA FRÁGIL DONZELA

 

Seus olhos estavam envoltos em tristeza, mas eu via neles ternura, eles brilhavam, não aquele brilho especial e cativante, mas dava para perceber que esses lindos globos oculares queriam dizer alguma coisa.

 

Os cabelos sedosos e compridos mostravam uma beleza natural, a pele morena e macia chamava a atenção apesar do corpo esguio e frágil coberto por um vestido simples e surrado.

 

Jamais conhecera um homem aquela donzela que passou anos semi encarcerada por considerarem ela "diferente" dos demais membros da família.

 

O pai acabara de falecer, adoecera repentinamente e a mãe dessa criatura não via motivos para mantê-la incomunicável, ela precisava ter os mesmos direitos dos irmãos.

 

Aos poucos ela foi se soltando e conhecendo como era a vida lá fora, me deu pena vê-la sorrindo pela primeira vez, seu corpo esquelético dava a impressão de que não se alimentava bem.

 

Não conseguia firmar os passos e andava delicadamente, mas tentava e conseguia, mesmo com alguma dificuldade, era uma determinação sua, queria a todo custo ver a vida.

 

Um rapaz das redondezas a viu e admirou-se, ele era também esguio e tinha uma vida triste, morava só com a mãe e nunca a tinha visto, quando a viu apaixonou-se.

 

José era o seu nome, Matilde era o nome da frágil donzela que acabara de conhecer o mundo e que viu na companhia dele uma forma de driblar a tristeza que nela se instalara.

 

O tempo foi passando e os dois foram se conhecendo melhor, ela já sorria e aceitava a presença do amigo como uma forma de vida nova, sua mãe estava se sentindo bem vendo a filha ser gente.

 

Anos se passaram e aqueles encontros entre Matilde e José se tornaram uma constante, eles abraçavam o sol todas as manhãs e um dia eu assisti discretamente a um beijo deles, o que me comoveu intensamente.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 11/01/2023
Reeditado em 11/01/2023
Código do texto: T7692159
Classificação de conteúdo: seguro