como eu desejaria
ter uma moto, um carro; filhos, esposa, família; como eu desejaria dinheiro, bens materiais, uma profissão, um trabalho; como eu desejaria mulheres, sexo, calor humano, multidão, praça pública; como eu desejaria um deus, uma religião - como eu desejaria...
já basta!
eu desejaria - não desejo.
não posso desejar, estou morto para o mundo comum.
estou à margem do texto, fora de contexto.
livre-arbitrío? relativo.
quem desejaria viver virtualmente, como mera possibilidade?
tive que criar para mim o que o mundo não me dava, então inventei outro mundo, o meu mundo; só sei falar minha língua própria - por necessidade.
língua paradoxal, ambivalente, mistura de crente com descrente.
tornei-me figura lida, personagem de uma trágica-comedia chamada vida.
tudo é texto, o "sujeito" é só miragem, não existo para além da literatura, fora da linguagem o mundo é nada.
meu corpo? que isso importa! só a metáfora é real, a existência é abstração do caos.