como eu desejaria

ter uma moto, um carro; filhos, esposa, família; como eu desejaria dinheiro, bens materiais, uma profissão, um trabalho; como eu desejaria mulheres, sexo, calor humano, multidão, praça pública; como eu desejaria um deus, uma religião - como eu desejaria...

já basta!

eu desejaria - não desejo.

não posso desejar, estou morto para o mundo comum.

estou à margem do texto, fora de contexto.

livre-arbitrío? relativo.

quem desejaria viver virtualmente, como mera possibilidade?

tive que criar para mim o que o mundo não me dava, então inventei outro mundo, o meu mundo; só sei falar minha língua própria - por necessidade.

língua paradoxal, ambivalente, mistura de crente com descrente.

tornei-me figura lida, personagem de uma trágica-comedia chamada vida.

tudo é texto, o "sujeito" é só miragem, não existo para além da literatura, fora da linguagem o mundo é nada.

meu corpo? que isso importa! só a metáfora é real, a existência é abstração do caos.

Fiódor
Enviado por Fiódor em 10/01/2023
Código do texto: T7691321
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