Novamente aqui
Novamente estou só.
Interessante ver que de tempos em tempos, quando o mundo cai, quando respirar se torna difícil nessa rarefeita existência, olhamos ao redor e tudo parece somente ilusão. Tenta-se falar, tenta-se explicar, mas quem quer ouvir? Eu ouço? Eu sou ouvido?
Quem terá disposição de mudar? quem tem disponibilidade de atender? quem se disporá a viver em evolução, quando a carne humana resiste todo instante a isso?
Anos se passaram desde o primeiro desejo que a pedra caísse sobre mim, enterrando uma existência pífia. Eu já nem grito mais, já não se ouve da minha boca nenhum pedido sequer. Nessa vida de desistência em desistência, só não insisto no "desistir fim" porque quem fica não entende e sofre, muitos não superam... um fim mais natural, faria a racionalização dos outros mais fácil e o inevitável parece mais aceitável.
Por isso somente espero que numa misericórdia qualquer, quem me permitiu viver em tantas chances que poderia ter partido, deixe cair a pedra gigante, a bala encontrada, o infarto fulminante, e finde de vez essa existência tão breve e com tão pouco propósito.
Muitos poderiam argumentar sobre os propósitos, mas veja bem. Luther king, Alexandre o Grande, Gandhi... quantos com tamanho propósito se foram, neste momento milhares e milhares de pessoas deixaram a existência em três anos de peste, e eu permaneço aqui, desnecessariamente vivo e quase saudável. Tantas pessoas tão importantes e necessárias nas vidas ao redor, e eu, que pode se encontrar em tantos tão melhores, mais úteis, mais vívidos, mais inteligentes, amorosos, que neste momento estão cuidando de suas famílias ou em leitos de hospitais, eu estou aqui vivo.
Não me entenda mal, não reclamo da vida em si, só o estar vivo que me cansa. A vida nem sempre é tão ruim, só é um esforço sem propósito. Quem está comigo poderia estar com alguém melhor, não sou obviamente o melhor dos homens. Nada de especial, nada de ultra, nada de nada, sou de nada.
Engraçado lembrar de muitos que diriam "não é bem assim", e na verdade estão reafirmando o porque querem, desejam viver, quase por direito meritório. Nada tem a ver comigo, mas com cada um dos outros. E nisso não há problema algum.
Enfim, se essa misericórdia específica não acontecer, devo retornar a este local com outras palavras movida de emoção e como sempre, loucura. Desabafando com ninguém, por pouca relevância em meus textos, forma ruim de escrita, desinteresse normal nesse tema, má organização de categorias ou mesmo porque ninguém quis chegar até o final. Ninguém tem obrigação disso e não me importa tanto, já que espero pelo desinteresse geral. Simplesmente escrevo para marcar no tempo, um qualquer coisa irrelevante que tenha eu, até que inevitavelmente tudo se apague.
Se alguém chegou até aqui, muito obrigado.