DIANTE DO MAR

 

   “Às vezes ouço passar o vento;

           e só de ouvir o vento passar,

        vale a pena ter nascido”

                      (Fernando Pessoa)

 

E eis a bater-me agora uma coisa estranha na cabeça a me perguntar:

O tempo...!

Ah! O que é... o tempo?

O tempo!?...

Ou é alguma “coisa”...  ou não é... cois’alguma, sei lá!

É verdade:

Ou é tudo ou, então, não é nada

 

 

A graça do cotidiano viver...

Ond’estará?

Quem sabe, na incerteza, do qu’em cada dia... se haverá?!

(Nesta vida em que não temos certeza... da nada!)

 

 

A vida progride e persiste... como qu’em ondulações marítimas

(Ou mesmo como na correnteza d'um rio)

Não, oh! não...

Não pod’estar estacionada (jamais)

Até porque não consegue... estar atada

... como que um barco [ancorado] n'um porto

 

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A vida!

Está sempre seguindo sem pausa (sem folga... sem descanso)

Como os dias e as noites (que jamais cessam)

Como tudo...

 

 

E, portanto, nada é eterno... no percurso do tempo

Nenhuma madrugada, nenhum’alvorada, nenhum ocaso

É a “lei da impermanência” do universo

E quer saber?

Melhor assim

 

 

De minuto a minuto as horas se fazem

Seria aos poucos (lentamente)?

Certamente que não

 

 

Do dia d’ontem a ter passado tão rápido!

(Assim como veloz corre, pois, a vida)

O que ficará na memória do “humano tempo”?

Quais serão nossas eternas lembranças?

E haverá maior desejo [aqui] que não o de que querer mais "tempo"?

 

 

Oh! E não é que o medo, às vezes, nos assalta?...

Achamos que a vida termina co’a morte

E assim, temos medo de perder... nossos corpos

D'uma angústia a nos furtar a paz e o céu

Ou mesmo d'um desespero a nos jogar no inferno

(Do céu e do inferno a qu'estão em nossa mente!)

 

 

O que é nossa vida?

Somos barcos em viagem cada qual “em seu mar”

Não podemos ficar estagnados nas areias da praia

De form'alguma

Seria contrariar o dinamismo... da própria vida

 

 

E por que temer o mar?

Por que se apavorar [tantas vezes] co’a vida?

Só por estar, quiçá, como que sob um céu nebuloso, escuro, ou cinzento?!

Até quando nossos "fantasmas" nos meterão medo?

 

 

Não, não podemos ficar para sempre “em nossa praia”

Inadmissível

Para não dizer que seria insuportável viver assim

E a vida não permite qu’estejamos alheios a nós mesmos

O próprio "mar" nos puxa para suas águas

Que é a vida para o pescador a estar preso somente na praia?

Simplesmente nada!

 

 

E eis que ele acorda cedo (ainda de madrugada)

A avistar (na margem que s’encontra) o mar [que o chama para sua labuta]

E a ele contempla

Às vezes em toda sua extensão

 

 

Ou então no “infinito” de suas águas a estar depois dos montes

Destes mesmos que algumas vezes as nuvens os encobrem

Estejam [as nuvens] nas auroras, como também nos poentes

 

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Ama [o pescador] o mar porque dele tira, pois, o seu sustento

E não, não perderá suas horas (tão sagradas!) quando sai para pescar

(Ainda que não consiga nada)

Oh! E acaso ele já voltou de sua jornada co’as redes vazias?

Nunca

 

 

Até porque o mar está dentro dele

E ele está no coração do mar

Como também do próprio universo

Deste mesmo qu’em cad’um está

E nós... dentro dele 

 

      

 

23/12/2022

 

IMAGENS: FOTOS POR MIM TIRADAS

 

MÚSICA: “VENTO NO LITORAL” – LEGIÃO URBANA

https://www.youtube.com/watch?v=sqZsK-2Pvw0

Estevan Hovadick
Enviado por Estevan Hovadick em 23/12/2022
Reeditado em 23/12/2022
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