DIANTE DO MAR
“Às vezes ouço passar o vento;
e só de ouvir o vento passar,
vale a pena ter nascido”
E eis a bater-me agora uma coisa estranha na cabeça a me perguntar:
O tempo...!
Ah! O que é... o tempo?
O tempo!?...
Ou é alguma “coisa”... ou não é... cois’alguma, sei lá!
É verdade:
Ou é tudo ou, então, não é nada
A graça do cotidiano viver...
Ond’estará?
Quem sabe, na incerteza, do qu’em cada dia... se haverá?!
(Nesta vida em que não temos certeza... da nada!)
A vida progride e persiste... como qu’em ondulações marítimas
(Ou mesmo como na correnteza d'um rio)
Não, oh! não...
Não pod’estar estacionada (jamais)
Até porque não consegue... estar atada
... como que um barco [ancorado] n'um porto
A vida!
Está sempre seguindo sem pausa (sem folga... sem descanso)
Como os dias e as noites (que jamais cessam)
Como tudo...
E, portanto, nada é eterno... no percurso do tempo
Nenhuma madrugada, nenhum’alvorada, nenhum ocaso
É a “lei da impermanência” do universo
E quer saber?
Melhor assim
De minuto a minuto as horas se fazem
Seria aos poucos (lentamente)?
Certamente que não
Do dia d’ontem a ter passado tão rápido!
(Assim como veloz corre, pois, a vida)
O que ficará na memória do “humano tempo”?
Quais serão nossas eternas lembranças?
E haverá maior desejo [aqui] que não o de que querer mais "tempo"?
Oh! E não é que o medo, às vezes, nos assalta?...
Achamos que a vida termina co’a morte
E assim, temos medo de perder... nossos corpos
D'uma angústia a nos furtar a paz e o céu
Ou mesmo d'um desespero a nos jogar no inferno
(Do céu e do inferno a qu'estão em nossa mente!)
O que é nossa vida?
Somos barcos em viagem cada qual “em seu mar”
Não podemos ficar estagnados nas areias da praia
De form'alguma
Seria contrariar o dinamismo... da própria vida
E por que temer o mar?
Por que se apavorar [tantas vezes] co’a vida?
Só por estar, quiçá, como que sob um céu nebuloso, escuro, ou cinzento?!
Até quando nossos "fantasmas" nos meterão medo?
Não, não podemos ficar para sempre “em nossa praia”
Inadmissível
Para não dizer que seria insuportável viver assim
E a vida não permite qu’estejamos alheios a nós mesmos
O próprio "mar" nos puxa para suas águas
Que é a vida para o pescador a estar preso somente na praia?
Simplesmente nada!
E eis que ele acorda cedo (ainda de madrugada)
A avistar (na margem que s’encontra) o mar [que o chama para sua labuta]
E a ele contempla
Às vezes em toda sua extensão
Ou então no “infinito” de suas águas a estar depois dos montes
Destes mesmos que algumas vezes as nuvens os encobrem
Estejam [as nuvens] nas auroras, como também nos poentes
Ama [o pescador] o mar porque dele tira, pois, o seu sustento
E não, não perderá suas horas (tão sagradas!) quando sai para pescar
(Ainda que não consiga nada)
Oh! E acaso ele já voltou de sua jornada co’as redes vazias?
Nunca
Até porque o mar está dentro dele
E ele está no coração do mar
Como também do próprio universo
Deste mesmo qu’em cad’um está
E nós... dentro dele
23/12/2022
IMAGENS: FOTOS POR MIM TIRADAS
MÚSICA: “VENTO NO LITORAL” – LEGIÃO URBANA