Ofereça sua presença [Especial de Natal]
Há não muitos dias assisti a um vídeo curto, de breves minutos, com uma mensagem tão imensa que me sinto um tanto desafiado a tentar retransmiti-la através de palavras simples, incapazes de reproduzir fielmente os sentimentos e as inspirações que me dominaram quando as cenas se passaram e o encerramento superou tudo o que eu pensava que aconteceria.
Era um homem já idoso, de cabelos brancos, corpo levemente encurvado e com o característico olhar de alguém que já viu muito, já assistiu a tanto, já sentiu coisas que jovens como eu nem sonham em experimentar, mas que, inevitavelmente, terão que vivenciar: coisas que nos tornam sábios, experientes, que nos ajudam a crescer.
Era Natal. Como é agora. Como estamos vivendo nesses derradeiros dias de um 2022 tão veloz, rápido e barulhento. Aquele senhor, aparentemente viúvo, estava organizando os preparativos para a festa quando recebeu a notícia de que seus filhos não viriam, mas que no próximo, com certeza, lá estariam. O próximo enfim chega e assistimos, mais uma vez, a um solitário senhor tomando sua ceia. Cena que se repete no ano seguinte, quando sua família, outra vez mais, não se esforça por um momento juntos.
Eis que perto de mais um Natal seus filhos recebem um comunicado. Lágrimas. Desolações. Tristezas. Desesperos. Arrependimentos. Vemos olhos entristecidos, semblantes abatidos e corações aparentemente dilacerados. Naquele comunicado o aviso que não esperavam receber: seu pai havia morrido.
Esse é um daqueles avisos que nunca esperamos receber, não é verdade? Pensamos que as pessoas que temos ao nosso lado assim permanecerão por todo o sempre e acabamos iludidos, porque, inevitavelmente, assim como nós, elas precisam passar pelo dia da partida, o dia que nos marcará intensamente, o dia que transformará a nossa vida para sempre!
Aqueles filhos, então, no dia de Natal, acabam se reunindo na casa do homem idoso, onde deveria acontecer a cerimônia fúnebre. Estão desconsolados. Por certo pensaram nas tantas vezes que ignoraram o convite de seu pai e não lhe fizeram companhia na noite natalina. Por certo se culpavam pelo tempo perdido, pelas oportunidades desperdiçadas, pelas ocasiões que foram simplesmente jogadas fora.
Agimos assim também, não é verdade? Deixamos passar tantas únicas oportunidades e nem nos percebemos da importância que elas possuíam. Só nos damos conta do quanto eram importantes para o outro e para nós quando elas deixam de existir, quando deixam de ser uma possibilidade, quando apenas cutucam a ferida nos fazendo lembrar das inúmeras vezes nas quais estiveram bem à nossa frente, prontas para serem vividas e apreciadas.
Só que aqueles filhos teriam mais uma chance.
O homem idoso não havia morrido. Não... Ele estava mais vivo do que muitos jovens como eu! Ele apareceu, do nada, sem que esperassem pela sua visita. Olhou no profundo dos olhos de seus queridos filhos e não perdeu a oportunidade de um belo puxão de orelhas. “Só assim para que viessem”.
Suspiros aliviados. Sorrisos refrigerados. Gargalhadas de alguém que, depois de tanta dor, finalmente encontra um motivo pelo qual voltar a ser feliz. A família se reúne em torno de seu sábio. Por certo que se desculpam pelas desatenções. Por certo que prometem entre si nunca mais darem às costas a momentos tão únicos como aquele. Sorriem para o homem já tão idoso com ternura. Tocam-no. Aproveitam sua companhia enquanto dela podem desfrutar.
Nesse Natal, quero que reflita sobre a importância dos momentos com pessoas que amamos. Sei que às vezes temos conflitos com nossos familiares, afinal de contas a família perfeita não existe. Algumas discussões acontecem. Alguns desentendimentos. Inclusive pelos motivos mais imaturos possíveis. Mas se há amor, se há uma fagulha de consideração e respeito, deixe de lado as divergências e aproveite esses instantes tão únicos e especiais porque, se realmente há amor, quando eles forem uma impossibilidade seu coração se afligirá pela dor da saudade.
No entanto, infelizmente, há pessoas que não podem mais contar com suas famílias. Pelos mais variados motivos. Foram forçadas a seguir caminhos diferentes. Com os olhos marejados e com o coração apertado, precisaram se afastar por não serem aceitos. Se você é uma dessas pessoas não estou dizendo para que desconsidere suas dores e vá atrás de quem não pode aceitá-lo. Mas, provavelmente, outras especiais e importantes pessoas se apresentaram em seu caminho, então meu convite é para que a elas você consiga dirigir seu carinho, sua consideração e sua presença. Em muitas vezes a nossa simples presença pode ser o melhor presente que alguém desejaria.
Não espere que a pior notícia da sua vida chegue para que, então, reveja os passos que tem dado até aqui. Pode ser que a triste notícia seja verdadeira e não apenas a maneira como a vida encontrou para lhe ensinar alguma lição. Aprenda sorrindo, não queira aprender chorando lágrimas de dor por uma impossibilidade que, embora distante, se materializou.
Que o Natal nos faça olhar para quem importa, para quem nos ama e que também possui o nosso afeto com mais consideração e valor. É verdade que só saberemos com exatidão a grandeza do significado daquilo que tínhamos quando ele for apenas uma lembrança. Mas podemos experimentar a intensidade desse significado bem antes da despedida.
Crie memórias. Construa laços. Forme lembranças.
Nunca deixe quem ama sozinho.
Ofereça a sua presença.
E aceite as outras presenças.
Ausências podem ser dolorosas demais aos corações arrependidos.
Que o Natal faça nascer entre nós a consciência de que há pessoas importantes demais para que sejam esquecidas. Nem que seja apenas uma. Mas jamais deixe de demonstrar enquanto você pode. Chegará o dia que não mais poderá. Desejo que até lá esse amor que existe entre vocês seja vivido e sentido em sua completude.
Um lindo e feliz Natal!
(Texto de @Amilton.Jnior)