Tédio e a vida é isso mesmo
Ela estava ensinando as pessoas como passar as férias.
Tem que sair, tem que se cuidar, fazer skincare, tem que se hidratar, fazer atividade física, ir pra academia, encontrar os amigos, e se não tiver o que fazer, pinte as unhas, mude seu cabelo, faça uma make para ficar em casa, vá fazer compras, tire umas selfies, vá ao salão de beleza, passe a limpo a matéria do colégio ou da faculdade etc.
Parece tão difícil viver, não é? Faltou só dizer para assistir pela quinquagésima vez a novela no Vale a Pena Ver de Novo.
Precisamos encontrar o que fazer no tanto tempo que nos sobra de vida.
Vamos procurar futilidades para encher a vida, o dia vazio. Vamos preenchê-lo com qualquer coisa, para não ficarmos paradas, no tédio. Vamos gastar com produtos que só agridem o meio-ambiente, os animais e a própria saúde.
Porque não há pessoas carentes com quem podemos ser solidários, não há como ajudar as pessoas em situação de rua, não posso usar meu precioso tempo para visitar idosos em casas de repouso, não tenho tempo para ajudar em algum trabalho voluntário; no momento, estou muito ocupada cuidando de mim mesma, assistindo pela vigésima vez aquela série da Netflix, e me entediando.
Estou tão alienada, que quando não tenho nada para fazer na vida, não penso em ajudar o próximo.
Porque meu tédio é mais valioso que a vida humana.
E assim desperdiço meu dia, um ode ao tédio e à inutilidade.
Minha vida, que serviria aos necessitados, serve para manter esse corpo possesso de futilidade.