Desabafo trancado na garganta.

Abri nosso baú achando que estava tudo certo em pegar nossas alianças pra vender, mas comecei a surtar por partes. É sempre um caos abrir aquele baú. É muita emoção, é muita lembrança, é muita história, é muita coisa nossa. Teus desenhos, tuas declarações de relacionamento eterno, tuas demonstrações de amor exageradas. Tudo que a gente sentia. Tudo exagerado. E eu revivo isso. E eu lembro com carinho pra caralho. Lembro do início da nossa relação, do quanto a gente tentou, lembro de todas as coisas boas abrindo aquela porra de baú. Naquele baú não tão todos os traumas que tu me causou. Naquele baú não tem todos os rancores que eu guardo na minha cabeça. E isso me destrói. Esse baú me destrói. Ver você como uma boa pessoa, ver você com bons olhos, ver você com a visão de uma adolescente apaixonada novamente, ver você da forma que tu me criou pra te ver. Ignorando toda a manipualção, toda a chantagem emocional, todas as sequelas, todas as agressões psicológicas, todos os abusos físicos, toda a merda que foi a nossa relação. Abrir esse baú é como ignorar tudo isso e pegar só o que eu gosto em ti, que eu não vou citar aqui porque eu não sou idiota também. Não sou idiota de ficar recordando lembranças boas que já me vem ao acaso a todo momento pra me deixar confusa sobre minha visão de ti. Pra me deixar confusa sobre como eu quero me portar frente a nossa relação e frente ao que tu fez pra mim, frente ao que tu me fez sentir, que tu me faz sentir, frente a tudo que eu to passando. Eu não sou idiota. Posso ter sido uma criança imatura, posso ter sido manipulada por todo esse tempo, mas eu cheguei ao meu limite. Passei do meu limite, pisei no meu limite, cuspi nele, dancei um sapateado irlandês em cima dos meus limites e agora eu digo chega. Estou convicta. Estou de fato cansada, passada, enojada, doente, meio doida, muito doída, realmente muito traumatizada e ja falei cansada? Eu abro o nosso baú e fico tonta. Olho. Olho as coisas e tento não ver nada. Tento não assimilar nada. Mas volta e meia uma frase, uma palvra me pega desprevinida e eu me desmonto. Tenho vontade de chorar. Tenho vontade de me jogar de uma sacada do segundo andar, só pra sofrer e sentir esse sofrimento físico ao invés de recordar o teu sentimento tóxico por mim e o quanto eu sou dependente dele. Ao invés de recordar o quanto eu sou dependente de ti. Cansei, cansei, to cansada. E esse baú. Essa porra de baú podre que eu não consigo me livrar vai pra um canto escuro e úmido agora. Porque eu não vou deixar ele apodrecer meus móveis lindos e futurísticos. Esse baú podre vai. Vai repleto de lembranças, e de sentimentos, e de vivências intensas, sinceras, profundas, incomparáveis, incontestáveis, imensas da nossa relação, que infelizmente não tinha o que precisava pra dar certo, e sim, eu sofro muito por isso. Sim, eu tenho muito apego por isso. Por nós. Por ter me deixado sentir assim, me apaixonar assim. Por ter me deixado jogar de cabeça numa relação assim. Por ter me deixado investir tanto numa relação assim. Por ter me deixado investir tanto numa pessoa assim. Por ter me deixado viver tudo isso. Por me deixar te botar num papel tão importante e vital na minha vida. Por ter crescido contigo. Eu sofro pra caralho. Eu sofro pra caralho e continuo sofrendo, e vou sofrer mais um pouco, mas eu não vou me deixar ter mais nada disso por alguém como você. Eu vou apenas sofrer recordando as coisas boas que eu to deixando pra trás. Eu vou apenas sofrer recordando as coisas ruins que tu fez pra mim. Eu vou apenas sofrer…

Fer Perma
Enviado por Fer Perma em 19/12/2022
Código do texto: T7675642
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