Até o final da festa
Festas de aniversário. Quando falamos sobre elas logo nos lembramos dos tempos áureos quando, ainda crianças, aproveitávamos esses momentos com toda a energia da qual dispúnhamos. Era mais do que um encontro entre amigos. Era mais do que simplesmente cantar “parabéns”. Tinham os salgadinhos, um clássico. Tinha também o bolo, que delícia! Mas, sobretudo, tinha a liberdade de festejar, de brincar, de se divertir! Afinal, dias de festa de aniversário eram dias de liberdade. Ainda mais se fôssemos os aniversariantes. Parecia que tudo era permitido. Parecia que a única coisa a evitar era a tristeza, o desânimo, o cansaço. Em festas de aniversário aproveitávamos cada segundo com a intensidade que nos fosse possível. Como não nos era concedido o desejo de ficarmos presos naquelas festas eternamente, então ficávamos até o último segundo que nos fosse oferecido. E quando nossos pais nos chamavam para ir embora... Que tristeza! Ter que partir deixando para trás todo aquele mundo mágico, aquelas horas de êxtase, horas de puro prazer, o prazer de ser criança, garantia a nós uma desolação infantil!
A gente cresce. As obrigações surgem. Não podemos mais participar das festas de aniversário como fazíamos quando crianças. Se adolescentes, deixamos de lado as brincadeiras para iniciarmos as conversas com nossos pares e até mesmo aqueles flertes meio desajeitados e tímidos. Se adultos, partimos para uma paquera mais madura ou, então, ficamos correndo atrás dos nossos filhos para que não se metam em problemas. Fato é que não vivenciamos mais as festas de aniversário com o mesmo entusiasmo e a mesma liberdade de quando éramos tão novinhos, crianças cheias de energia e sonhos.
Mas não mudamos apenas a nossa forma de festejar as festas de aniversário. Mudamos, infelizmente, a maneira como vivemos a vida, essa festa ininterrupta, diferente daquelas que frequentávamos, claro, mas completamente festiva ao seu próprio jeito. Se quando crianças queríamos ficar até o último segundo, agora parece que não aguentamos nem um instante. E não me refiro apenas às festas de aniversário. Parece que queremos desistir da vida antes mesmo dela começar. E não falo sobre a interrupção dos nossos batimentos cardíacos. Falo da motivação que nos levaria a sermos criativos em nossa caminhada por esse plano. Passamos a aceitar as coisas com conformismo, com uma passiva aceitação, sem qualquer lampejo de vontade por ousarmos a fazermos da nossa existência algo esplendoroso que despertasse – ou renascesse – em nós aquela vontade por aproveitar, com plenitude, até o último segundo – embora desejássemos pela eternidade.
Eu sei. A vida é dolorosa. E você pode me perguntar como ainda posso pensar em olhar para a vida com o olhar curioso de uma criança sedenta por aprender, por experimentar, por sentir a vida acontecer. Não é muito mais fácil simplesmente deixar os dias passarem? Concordo que seria muito mais simples cruzar os braços e deixar que as coisas fossem como fossem ou, em outras palavras, que fossem como deveriam ser. Mas e se elas não acontecerem como eu gostaria que acontecessem? E se a vida não me levar a destinos os quais quero tanto conhecer? Devo pura e simplesmente me conformar em ser apenas um coadjuvante na minha própria história sabendo que, por determinados cenários, tenho total direito de trilhar?
É isso o que quero trazer com essa reflexão. Há coisas na vida que fogem ao nosso controle. Não vamos solucionar o problema de desigualdade no mundo, nem seremos capazes de instaurar a paz mundial. Não com ações isoladamente individuais. No entanto, no que diz respeito à maneira como passaremos por essa vida, se realistamente esperançosos ou dramaticamente conformados, é uma escolha individual que cada um precisa fazer. Quero aproveitar a festa até o final. E você? Consegue entender que a festa, por mais monótona que pareça estar, ainda não acabou e que, portanto, algo pode ser feito afim de melhorá-la?
(Texto de @Amilton.Jnior)