Eu aristotélico

Embora o passado tenha sido um tempo extremamente difícil, eu o vejo e sinto inveja do meu eu. Deixei de lado alguns ideais, mas outros ganharam sustância. O que ocorreu nessa andança foram as drásticas pancadas da vida. Pancadas estas que ninguém está imune. O tempo muda tudo, como cresci escutando. E a coisa mais difícil é se manter na linha tendo contra nós a forte correnteza da vida. Cometemos erros de diversas formas, como se a conta jamais fosse chegar algum dia. "Ah, mas se eu pudesse voltar no tempo." Tais palavras foram usadas centenas de vezes por bilhares de vidas que se foram, e serão repetidas pelas que virão. Afinal, é do feitio de nossa espécie, principalmente na nossa cultura ocidental, a demora na aceitação da mortalidade. Culpamos os outros pelos nossos fracassos e vamos matando parte de nós aos poucos, cada um à sua maneira, como se quiséssemos nos vingar do mundo pelo fato de não termos pedido para simplesmente existir. Quando a juventude vai dando adeus, vem o momento que realmente vivemos - pois esta fase é, ou deveria ser, o marco temporal onde refletimos sobre nossa existência e propósito. Esse é o momento que definirá quem realmente somos. Isso se estabelece de maneira singular em cada indivíduo. É difícil achar alguém que engula com certa facilidade palavras reativas, entaladas na garganta - aquelas que surgem e que explanam nosso verdadeiro ser. Quase ninguém se imagina sacrificando seus privilégios pelo bem de alguém, até o destino nos reservar uma nova tarefa. Há os que se desdobram, e há aqueles que definham perante a responsabilidade que vos cai. O amor, a empatia, a determinação e a fé não são pra todo mundo, principalmente os mimados, e tampouco têm a ver com as mutáveis e individuais perspectivas de mundo que adquirimos no percurso da vida. Devemos olhar para o passado com brandura, despertarndo o nosso melhor, adormecido desde então, e exumar tudo o que fazíamos de bom. É a minha pretensão. Não posso permitir que a frieza que eu enxergava nos adultos quando criança continue a tingir o resto de meus dias. Preciso voltar a ser quem eu era. Preciso resgatar a tal essência aristoteliana.

Bruno da Silva
Enviado por Bruno da Silva em 16/12/2022
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