Terça-feira.
Hoje eu pensei em morrer, e fazia tempo que eu não pensava nisto.
Me vi com uma faca cortando meu braço lentamente e vendo todo aquele sangue caindo sem ter chances de voltar atrás, estava em casa sozinho e sobre uma falta de ar em choque, não pelo líquido derramando, mas sem como ter pensado em todos os adeus que poderia ter dado antes.
Eu lembrei um momento que eu tenho um gato e sempre o amei, tratei como um filho e percebi que serei um péssimo pai, ele sentia fome e eu esperava que ele me falasse para que eu pudesse agir, era como se eu sempre esperasse por ele e ele soubesse que havia que falar pois caso contrário eu ficaria sentado por horas sem me levantar. Ele deitava gostoso em meu peito quando parecia que eu não queria uma companhia, e eu descobria por ele que eu amava ser abraçado em dias frios e por mais que minha rinite atacasse, eu nunca o largaria.
Ele chora ás vezes quando me vê, mas sabe que o amo, espero que ele saiba mesmo.
Talvez não tenha feito tanto sentido ter feito quatro anos de faculdade se eu perderia em quatro minutos me debruçando sobre o chão frio da cozinha, ou até mesmo não teria a última conversa com o meu pai sobre o dia de amanhã talvez não chegar, pois pra mim seria ali o meu ponto final. E eu mereço esse ponto final? Mereço achar que eu tenho o direito de escrever um final tão insignificante a ponto de deixar tantas pontas soltas?
Eu não consigo ver como minha cabeça trabalha, apenas sinto. É como se tivesse tantos pensamentos que até me perco em raciocínios e ideias que vou tendo ao decorrer do dia, em coisas que muitas pessoas me falam e a atenção juntamente com o foco que tanto me cobram.
Eu sentiria falta de um beijo como eu sinto falta de abraços em dias frios.
Eu não seria mais amado, pois nem amor poderia sentir.
Eu me sinto egoísta, me sinto certo ás vezes e até um pouco rude, mas como posso compensar todos esses pensamentos ruins?
Como posso despejar uma violência sem que no fim seja violento?
É mar de perguntas sem respostas, é apenas um caminho a percorrer, eu preciso voltar pra terapia.