Cuidar de quem cuida
Temos andado bastante desconectados da nossa humanidade, dessa essência que nos define enquanto espécie e nos torna tão únicos dentre infinitos outros seres que povoam, habitam e sobrevivem neste planeta! Temos estado muito egoístas, muito materialistas, muito individualistas, muito egocêntricos, voltados a nós mesmos, aos nossos ferrenhos ideais, querendo lutar contra tudo e contra todos apenas para defendermos o nosso modo de ver o mundo como o correto, o absoluto, o único capaz de organizar as coisas e trazer a paz. Não nos damos conta de que a vida aceita a pluralidade. Algo pode garantir a minha paz, mas não a do outro. Algo do outro pode garantir paz a ele, mas não a mim. De maneira que todos estaremos no caminho certo, mesmo que diferentes, se esse caminho corresponder ao tal ideal de paz em seu pleno significado – paz a todos!
E nesse comportamento de puro egocentrismo, num narcisismo nada saudável, ofendemos, machucamos e desvalorizamos principalmente as pessoas que mais nos amam. Que oferecem a nós um amor verdadeiro e genuíno, até incondicional! E olhe que pessoas assim têm sido raras ultimamente, nesse mundo de tantos humanos presos ao que reflete o espelho.
O resultado de nosso erro tem sido perder quem nos faz sorrir em um dia de dor, quem nos faz felizes nos dias de tormento, quem nos concede descanso em um dia de tensões, quem consegue ouvir nossos desabafos nos dias de tristeza e lamento. Quem, humanamente, desfaz-se de suas próprias necessidades, momentaneamente, para disponibilizar-se às nossas.
“Cuide bem de quem faz o seu coração sorrir” (Diego Vinicius)
Você tem cuidado de quem tem alegrado o seu coração? Para nos entristecer e abater há bastante gente. Para nos confortar e restaurar, há poucas. Tem valorizado essas poucas? Tem direcionado a elas o amor que merecem? O carinho do qual são dignas? O afeto de que também necessitam? Ou tem se ocupado demais pela sua própria vaidade ao ponto de não conseguir ver aquele ou aquela que, de coração aberto, o aguarda nos finais de tarde para que você adentre em suas moradas?
Os finais de tarde representam os finais de nossas diárias batalhas.
O coração aberto representa aquele ombro disponível, aquele abraço ofertado, aquela escuta dirigida.
Você tem cuidado de quem ajuda a fazer da vida algo mais leve?
Nesse mundo tão individualista no qual temos vivido, um mundo no qual as pessoas falam que é frescura ter responsabilidade e comprometimento em nossas relações com as outras pessoas, cuidar de quem nos cuida pode parecer loucura. Mas no meu mundo, naquele que espero estar construindo para mim, um mundo no qual os meus poderão, junto a mim, protegerem-se das mazelas de uma sociedade tão desconectada de sua humanidade, um mundo no qual teremos, sim, os nossos problemas e conflitos, mas que nunca daremos as costas uns aos outros depois de conversas malfeitas, cuidar de quem nos cuida é a única lei existente.
Você aceita fazer parte desse mundo também?
Ele não é material.
Não existe um espaço físico.
Nem é cercado por fronteiras.
Ele é criado.
Pode ser criado.
Por mim. Por você. Por quem mais quiser.
A partir do nosso coração.
Para o coração do outro.
Vamos morar uns nos outros?
(Texto de @Amilton.Jnior)