Ajudar é viver
Em tempos estranhos o drama e a catástrofe vendem e atraem. Vendem jornal, revista, captam visualizações e comentários nas redes sociais, os famosos trend topics, mas ao mesmo tempo em que os homens se sensibilizam com dramas alheios procurando saber detalhes do fato grave que ocorreu, engatam um comentário simpático, quiçá uma oração, retornando aos seus afazeres. Afazeres e dilemas, diga-se de passagem, pois todos os têm em maior ou menor grau, mas o que me causa espanto é a velocidade do esquecimento até a próxima manchete bombástica. “Ele vai dar a volta por cima”, dizem alguns, ou ainda “A vida é mesmo assim, cruel, coitado”. É óbvio que ninguém é a palmatória do mundo, mas penso que vibrar positiva e insistentemente ou ainda tentar agir em prol da resolução daquele drama (como uma enchente que arrasa regiões) melhoraria a vida do ajudante e ajudado em vários níveis, creio que mais ainda da vida de quem dá a mão.
Curiosidade não é empatia, pena não é proatividade e nem o dinheiro é panaceira para todos os males. Ensimesmados, indivíduos não refletem que poderia acontecer o mesmo a eles. Ou, se já aconteceu, é de lamentar que tenham permitido que o sofrimento engessasse seu espírito junto com seus braços. Atenção, melhor dizendo, tentar uma ação, atentar para tornar são, são palavras correlatas que nos convidam a refletir. O humilde pode conter em si um manancial inesgotável de compaixão e bondade enquanto o próspero pode ser indiferente e raso não importando em uma generalização, pois há de tudo neste mundo. Mas quantas montanhas seriam movidas de lugar se cada pessoa transportasse um só punhado?
A insanidade contagia e angustia, mas a tristeza não, a tristeza demanda providência. Hoje a gente levanta alguém com atos ou palavras e em qualquer curva mais adiante alguém sairá aparentemente “do nada” apontando uma solução e ajudando a nos erguer física ou moralmente. Creio serem favas contadas apesar de todo o egoísmo que grassa no mundo. Os tolos não sabem que o bem reverbera alto e forte, sonoro como trombone e, ainda, que uma pequena ação liliputiana pode evoluir para algo imensamente poderoso, aí está a beleza de se viver.