Coitada de mim!
É um tanto quanto cômico eu encontrar o baú de recordaçoes da nossa relação infestado de cupim dentro do meu armário de madeira, e o cupim se espalhando por tudo, como uma praga se espalhando físicamente pelos meus pertences, assim como você, uma praga se espalhando espiritualmente pelas minhas memórias. O lógico a se fazer com o baú foi tirá-lo do meu guarda-roupas novo pra não destruí-lo completamente, já que supostamente ele vai me acompanhar por toda minha vida, vai habitar meu futuro apartamento próprio, e preciso mantê-lo em boas condições. Um tanto quanto cômico não? Por que é tão lógico e fácil tirar esse baú do meu armário pra não estragá-lo e ao mesmo tempo é tão difícil te tirar da minha cabeça pra não me estragar!?!?! No caso você já fez danos irreparáveis a minha sanidade mental, a minha percepcção de realidade e a forma como eu lido com as pessoas e situações, mas como diabos eu ainda posso querer manter esse baú no meu armário? Como diabos eu posso sentir falta desse cupim? E lembrar com carinho dessa infestação que durou quase uma década? Minha constatação final foi que eu sou doente mental, e por isso faço meu tratamento psicológico e psiquiátrico diário, isso obviamente de uma forma irônica, porque eu sei que eu sofri uma lavagem cerebral desde a infância por viver em um relacionamento pedófilo com um homem hétero, e eu fiz isso pra fugir de um ambiente tóxico que era a casa dos meus pais misóginos e homofóbicos, então o problema não sou eu. Eu sou uma pobre coitada miserável que nasceu num lar perturbado e tomou péssimas decisões na vida, eu sou uma pobre coitada miserável que usa do artifício da irônia e da escrita pra descarregar toda frustração e incontenção que não cabe nesses 50kg de carne em forma de mulher.