Diálogo intimo ou mais um monólogo

Faz tempo as pessoas conversavam, mas faz muito tempo mesmo, também faz muito tempo que as pessoas se ouviam, isso tudo é coisa de um passado ou de uma utopia que ainda na juventude li em algum livro, pois não tinha com quem conversar sobre o que acreditava, os sonhos que planejava e as verdades impostas pela vida como ela de fato é.

A vida social é tão descabida que esquecemos o que foi dito no mesmo instante que olhamos para outro lado, e nada importa pois nada dito ali é levado a sério em meio a barulho, falas truncadas, ninguém completa uma frase, mas não tem importância e fica tudo bem, ninguém estava prestando atenção mesmo, até alguém estender a câmera e os sorrisos plásticos congelarem o instante de pessoas aparentemente sociáveis, de bem com a vida, registrando um fato gerador de curtidas e aplausos, mas quando observam a postagem perguntam quem eram aqueles ao redor e o que, se é que existe algo ligando um ao outro, além da imagem congelado e a impressão gerada para milhares de infelizes desejando aquele modelo meramente ilustrativo de vida.

Displicente com a saúde riem e choram das loucuras sem se dar conta da própria insanidade e a vida segue, um comprimido para dormir, um para se manter de pé e o social sobrevive.

Dois anos, dez anos e quem ouvia cansou de ser depósito, quem falava cansou de ser exposto, quem migrou entre os polos continua observando, nada mudou, ninguém sabe ouvir, mas entender isso é tão complexo quanto a origem da vida, tudo é entendido quando não mais existir ar nos pulmões, quando nada mais for dito e ainda estarão buscando culpados, responsáveis e perdendo tempo precioso de convivência.