Sobre terapia
Durante 10 anos, entre um psicólogo e outro, entre idas e vindas, ela está lá na sessão de terapia.
Na primeira vez, foi obrigada. Na segunda, começou a refletir, mas se sentiu incomodada. E na terceira em diante foi percebendo que realmente fazia sentido o que era lhe questionado.
Nesses caminhos terapêuticos de renascimentos, se desenvolveu. Doeu. Chorou, rasgou o peito. Mas foi esse remendo que acalmou a dor. Foi a fala. Foi a escuta. Foi o verbalizar aquilo que trazia dentro de si. Foi um olhar sereno, que abraçou. Foi o silêncio que falou. Viu dissipar monstros que não eram tão monstruosos assim. Foi encontrar o lado avesso, aquele que ela não via. Foi se enxergar.
Há quanto tempo não percebia a sua potência? Há quanto tempo se diminuía dentro de uma caixinha de diagnóstico? Seria ela mesmo, a capacitista? Ela que pensava que não poderia dar conta de muitas coisas, mas nem notava quantas tarefas realizava no dia a dia. Ela que queria ser adulta. Ela se viu sozinha muitas vezes em sua profissão, mas sempre tinha alguém para lhe estender a mão. Quantas vezes precisou ser forte, mesmo sem entender nada? Mesmo sem saber seu próprio nome. Quantas vezes ela se viu desmotivada, com efeitos colaterais do remédio? Seu olho piscava sem parar. Mas ela não parava. E lá ia ela na faculdade, até que estava formada.
E a terapia é uma das mãos que a sustenta até hoje.
É aquele momento de falar sobre o que precisa ser dito para alguém. Que precisa ser trabalhado, ruminado… É aquele colo, aquela força que nos faz seguir em frente. É o momento de encontrar com o seu Eu e agradecê-lo por tanto.
É dar as mãos para sua própria versão, a antiga, a atual. É tratar aquela ansiedade que parece um comichão de querer saber do futuro, mais do que ele pode nos contar. É escolher comprar um planner diário, do que um planner semanal, para tentar domar um pouco dessa pressa de controlar tudo, de enxergar o todo e cada mínimo compasso. É dar um passo de cada vez. E enfrentar a alma, limpá-la. Chorar o choro que precisa sair.
É pensar no seu valor enquanto pessoa, o valor do seu tempo. Caminhar com alguém que quer te ver brilhar. Que quer te ver sorrir com sinceridade.
Que acolhe as suas incertezas e não te dá certezas, mas a coragem que você precisa para viver a vida sendo quem você é.