O desapego do desejo destrutivo

O combustível mais poderoso que move o ser humano é o desejo carregado de emoção, fé e determinação. Esses elementos podem levar o sujeito a conquistar feitos impossíveis para a época em que ele vive, isso, quando tendo a seu favor uma quantidade de energia o suficiente para quebrar todas as resistências no seu caminho e claro, um pouco de sorte. Nem só de atos grandiosos se alimenta o desejo, ele é facilmente conquistado por doses de satisfação que envolvem pouco esforço, prazeres rápidos e fáceis que trazem consigo uma carga de destruição em sua essência. O cérebro não diferencia as consequências entre o impacto causado por um desejo que traz carga positiva do que um com predominância negativa. O desejo encontra no esforço uma tendência de ação, cabendo então o indivíduo através da escolha decidir por qual caminho seguir, sendo na grande maioria das vezes, o caminho do prazer. Neste ponto nascem os vícios onde uma aparente falta de lógica impede nosso corpo a aceitar coisas como: levantar-se as seis da manhã, correr alguns quilômetros, meditar, comer algo saudável depois de um banho gelado para ter um dia supostamente produtivo. O calor da cama é sempre mais chamativo. A mente cria desculpas convincentes e soluções que aparentam ser palpáveis para as consequências de nossos atrasos. A realidade social com foco em produtividade impõe tempos duros e inflexíveis. Os minutos a mais perdidos na cama resultam em uma aceleração no ritmo da mente, afetando todas as decisões tomadas durante o dia. O ritual de procrastinação se repete e mesmo sabendo que um preço será pago no futuro, o sujeito aceita o choque de retorno, com reclamações que o levam a querer mudar no dia seguinte, mudança que acaba sempre ficando para a próxima segunda-feira junto com o começo da dieta. Esse mesmo processo acontece em todos os aspectos da vida, criando assim um magnetismo para o que chamamos de preguiça e vício. Temos assim a conclusão de que tudo que nos faz bem e nos leva a uma evolução verdadeira dói. Os resultados benéficos do bom hábito, são conquistados com o agir consistente por longos períodos, com o doloroso fato de que não teremos a consciência do resultado de nosso esforço, até que tenha passado um tempo suficiente para podermos olhar nosso caminhar de longe. O porquê de abandonar os prazeres destrutivos todos sabem: nos faz mal, nos mata, acaba com nossas relações e impede a evolução pessoal, então como desapegar de coisas extremamente prazerosas e que muitas vezes acabam definindo quem somos?

Ter ciência da dinâmica dos prazeres é um bom começo. Ter a intenção de encaminhar esta energia destrutiva para um lugar de cura seria o próximo passo. Porque fato é que provavelmente a maioria de nós deixará este mundo com algumas centenas de vícios. A melhor solução que me ocorre no momento é trabalhar a si próprio através de ferramentas disponíveis como: terapias psicológicas e holísticas, boa alimentação, meditação, atividade física… aprendendo a identificar as ondas de impulso destrutivo que nos atacam, ondas que nos levam para os atos que queremos evitar. Temos que encontrar uma forma pessoal para encaminhar este impulso para algo que possa substituir o vazio que estamos sentindo, porque tudo se trata no fim das contas do grande vazio existencial que sentimos. A mudança não acontece de maneira repentina, até chegar ao estado de purificação, muitas quedas nos aguardam, aprender a não se julgar é essencial para poder continuar a busca da evolução. O importante, é evitar a consequência última, onde a dor de não viver, é maior do que a dor do vício, este é um ponto onde temos apenas dois caminhos, ou mudamos, ou morremos. Por isso, não poupe energia na busca da melhora, cultive um tempo mais lento e lembre, a busca final está em se transformar em um ser humano mais límpido e conectado à natureza, porque é no existir natural que o ser de luz se faz e a sociedade brilha.

montezyin
Enviado por montezyin em 27/11/2022
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