I-LXXII Jaezes de vida e morte
No fim dos tempos, procuro por quem
intente viver neste descontento.
Se há salvação no único mal do coração,
que eu caia em tentação, e perca-me neste abrigo
apertado e restrito, mas sem dimensão.
É loucura pensar na lonjura, pois perdemos vidas carregando repulsas,
e andamos de bom ou mau grado, e insistimos correr do acaso.
Como se a alguém a vida pendesse ao bem,
e à ventura, sobrasse o caos das dúvidas:
É genuíno o amor que sinto, é evidente que sou carente,
inevitável o fracasso dos bens escassos, e a morte de meu ente amado.
Então se por ventura livrar-me do paraíso, que eu esteja contigo.
Pois lembro-me das vezes que juraste ao infinito:
cada mal a mim, far-te-ias mais cravado ao canhoto amigo.
Amo-te com medo, e como já padeço,
resta-me o tempo que me arrasta ao desfecho.