O VERDADEIRO POETA
“O que distingue um grande poeta é o fato dele nos dizer
algo que ninguém ainda disse,
mas que não é novo para nós”
Quem “precisa” par’outros se mostrar é porque não “é”
O verdadeiro poeta não escreve... somente palavras
Está nelas... presente (em seus versos)
E em cad’um de seus escritos, eis um pouco... de sua autobiografia
E assim segue registrando e redigindo-se (a sua vida)
Revelando-se, então
Ainda que seja... aos bocados
Não, não tem pressa, nenhuma...
“Caminha” silenciosa e vagarosamente
Suas palavras não são “barulhentas”
Se fosse, decerto que não seria... "poeta"
E não escreve tanto por caçar e ir à busca... de leitores
Muito menos corre atrás de aplausos ou prêmios
(Considerando ser isto uma grande mendicância!)
E quem o lê não é [par’ele] simplesmente um “leitor”
Trata-se d’um companheiro d’estrada
Ao que talvez se diria: alguém que co’ele [também] escreve
Tanto sua vida quanto a dele
Escrevendo juntos, então!
Quando alguns “somente leitores” o criticam (ou até o difamam)
... bem sabe o poeta se tratar d’uns ridículos invejosos
Talvez, por isso prefere não ter muitos [“leitores”]
Esconde-se [quando e o quanto puder]
Não, não s’envaidece pelo que faz
Não o verdadeiro poeta
Este não!
E qu’estranho paradoxo a se fazer na vida do autêntico poeta:
Apesar de ser diferente de todo mundo não acha que se distingue
... de ninguém
É verdade...
Talvez porque sabe que o que há nele há também em todos:
Desejos, medos, sonhos, angústias, desesperos, esperanças...
(Todo o universo mental... de todos)
E sempre lembra que é... humano
Sim, jamais disto s’esquece
E nunca s’expulsa do mundo (não se alienando, portanto, dele)
Está sempre no mundo...
Deste mundo qu'está o tempo todo... n'ele
Na verdade, ele não consegue viver fora... do mundo
E assim, não vive n'um lisérgico "mundo de faz de conta"
Estilo "Alice no País das Maravilhas ou "Lucy in the Sky with Diamonds"
Prefere o "mundo de pés-no-chão"
Ainda que não seja tão bonito quanto ao platônico mundo dos muitos
... que não querem ver o mundo em que nele todos estamos
E o verdadeiro poeta ama este mundo... de verdade
Feito de gente de carne e osso... (e que tem alma)
O verdadeiro poeta tem seu estilo próprio
Sua singularidade eis sua principal característica
E não segue nenhuma “epidemia literária”
Nenhuma “moda do momento” ... no que vai atrás “a maioria”
Não, não é "maria-vai-com-as-outras"
Prefere ser... ele mesmo
A ser... sempre ele (e somente ele)
E também não é um misoneísta, apegando-se aos estilos antigos
A ter aversão a tudo o que é novo
E assassinado, por consequência, o seu tempo
E está o tempo todo mudando
Não, não é jamais um “fundamentalista” de sua própria escrita
Inova-se... renova-se... desenvolve-se... aperfeiçoa-se... supera-se
Ainda que saiba que jamais atingirá o horizonte de su’arte
Impossível, ninguém consegue
E ele também não deseja isto
Bobagem!
Sendo, portanto, humilde no qu’ele faz
Não, não se “empina” diante d’alguém
Não s’empavona
Sendo sempre... simples
Por que ele “é” o que “é”
Não necessitando jamais de s’exibir para quem quer que seja
Quem “precisa” par’outros se mostrar é porque... não “é”
Precisa aprender a “ser”, então!
18/11/2022
IMAGENS: INTERNET
VÍDEO: Antônio Abujamra declamando poemas