Cogito, ergo sum? Penso, logo sou/existo?
Entendo que essa frase vem sendo erroneamente interpretada. Não foi o pensar que levou Descartes a concluir pela existência, mas a constatação de que estava pensando, ou seja, existe não porque pensa, mas quando percebe que pensa, quando constata sua capacidade de pensar. Passamos a existir quando nos damos conta da nossa própria existência, quando percebemos a nós mesmos. Ou seja, não é a cogitação que concretiza a existência humana, mas a consciência.
Não é o agir deliberado/intencional, fruto, portanto, de um raciocínio, e não de uma mera reação instintiva, que conduz à existência, mas a consciência sobre esse agir. A razão permite o diálogo ao agir, já a consciência permite uma análise sobre essa cogitação, momento em que se pode dizer, como se fosse um terceiro observador de si mesmo: “Cogito, ergo sum”.
Existimos não quando estamos perdidos em nossos pensamentos, absortos no processo de pensar, mas quando nos tornamos conscientes desse processo ao refletir sobre a própria capacidade de reflexão.
Assim, com o perdão do filósofo, mas justamente em homenagem ao pensamento cartesiano, penso que a sua famosa frase deveria ser alterada para: “Percipere quae cogito, ergo sum".