E agora

Um dia houve um filósofo que não era

Dizia impropérios pretensamente filosóficos e ofensivos aos seus eventuais desafetos. Era um biltre. Um ser, em tudo, e por tudo, desabonador, para não dizer, reles, que, achando-se, no alto de sua arrogância e beócia pessoa, achando-se, ele, que antes de tudo, nada mais era, para ficarmos somente nesse resumido perfil do biltre, se dizia, para espanto e lamentos mil, o fulano se dizia Filósofo!

Dotado de uma arrogância só não maior que o Evereste, o fulano, digo, o filósofo que não era, tomado de arroubos sabe-se lá de onde tanta porcaria, o fato é que o fulano, digo, o filósofo que não era, jactar-se de uma sabedoria que só aos incautos e desatentos (para não dizer asnos) surtia algum efeito, ou seria, defeito. Sei lá. Fica defeito mesmo.

Ocorre que o fulano, digo, o filósofo que não era, no topo de sua vasta sapiência, assim o dito se via, ou seria, o que era sem nunca ter sido, disse certa vez, e observado por seleto grupo, que o globo terrestre, sim, o próprio, aquele, esférico, redondo, que alguns chamam de Planeta Terra, ocorre que o fulano, digo, o filósofo que não era, disse, com enaltecida sapiência (assim, o dito se via), que a Terra, nosso Planeta, que até onde se sabe, nunca mudou sua forma, o fato é que o fulano, digo, o filósofo que não era, sentenciou que o planeta era plano!

Pasmem, meus caros, houve para o fulano, digo, o filósofo que não era, verdadeira ovação, ou foi ovulação?, enfim, houve grunhidos, daqueles tipo Senhor dos Aneis, que até o mais surdo dos surdos, foi capaz de ouvir. Digo grunhidos porque fui educado, ainda que de pais e mãe sem os títulos que o fulano, digo, o filósofo que não era, me ensinaram que até com o posto tem que ser educado. Pois, me ensinaram meus pais, que a um educado nunca faltará a oportunidade de calar o biltre. E assim, sem saber o que era biltre (hoje eu sei), levei minha vida.

E não que sem que se procurasse, sem nenhum esforço, chegou a mim repito, sem que procurasse, sem nenhum esforço, chegou a mim que o fulano, digo, o filósofo que não era, despachou-se para terras ignoradas e que todo seu acervo intelectual seria distribuído entre seus outrora ouvintes.

Não acreditei. Porém, e só porém, assevero que diante do que antes o fulano, digo, o filósofo que não era, pronunciou, deitei-me a essas linhas, parcas linhas, não para comemorar, mas, tão somente, para assentar que o debate, ao contrário de uma campo de guerras, onde se busca a eliminação do inimigo, o debate de ideias, ao contrário, busca-se o mútuo aprendizado. Num debate sério, ao contrário de uma guerra, não saem vencedores, saem pessoas com novos, e talvez, reforçados, argumentos; nunca inimigos. Mas para o biltre que já se foi, nada era sério quando não saído de miasmática cabeça. Ele se foi. Ficaram os lírios no campo.