Paixão e Ponderação
Será que quando jovens éramos só paixão? Na minha opinião a Yasmina Reza simplificou demasiadamente os sentimentos humanos ao dizer "Quando deixamos de ser jovens, trocamos paixão por ponderação"... e acertadamente deixou de abençoar uma troca, porque ela não houve.
Quando jovens, fomos mais passionais do que ponderados, e quando maduros a ordem inverteu-se. Não trocamos paixão por ponderação, invertemos o peso desses dois sentimentos em nossos comportamentos. Pensando assim, não tenho a visão de que o predomínio da ponderação na fase madura, é uma atrocidade que se comete contra si mesmo. Aceito essa inversão na evolução das nossas vidas, com naturalidade, sem revoltas ou frustrações.
Prefiro pensar que com a maturidade, investimos mais forte em tentar elevar o estado da alma pelo equilíbrio e pela moderação na escolha dos prazeres. Mas, dependendo de situações criadas por nós mesmos, essa tentativa, como tudo na vida, tem o risco de insucessos. E ficar "à disposição do imponderável, dos impulsos e do incerto", a meu ver aumenta esse risco.
Não devemos nos sentir refém do que construímos, e sim, parte dessa construção, com possibilidades de transforma-la constantemente. Enfim, não vejo nada de ameaçador nem errado em quem é "controlado, obediente, e ponderado".