Genesis - Esotérico
Esses "bons" e "justos" com seu ódio ao princípio transformador da vida só fazem caluniar os símbolos sagrados, criando barreiras àqueles que sentem o chamado do coração, que querem desvendar a vida em todas as suas facetas, isto é, seus enigmas.
Quando "pisam na cabeça da serpente" eles menosprezam o significado deste símbolo que, por desgraça, tem por consequência a desvalorização do mundo, dos instintos. A "serpente" representa a transformação do Ser, ser e transformar são faces da mesma moeda. Deus - perdoem-me os ouvidos delicados - é o diabo mascarado de serpente para se compensar do fato de ser Deus e redimir-se por ter criado tudo perfeito. Ele se eleva sobre si mesmo quando transfigura sua obra em bem e mal. O Nirvana, já diziam os budistas, se encontra em meio ao Samsara.
A gênese do cristianismo, quando interpretada em termos conotativos, dá-nos a chave para compreender o enigma do mito da "criação". Estamos diante de um problema puramente literário: o diabo, de início, não estava lá por acaso, ele é a máscara de Deus ao sétimo dia. "Cabeca vazia é oficina do diabo" - lembra? O sétimo dia é o ócio de Deus. Não fosse a serpente, a vida seguiria o mesmo caminho de dor e sofrimento, porém, a morte não existiria como limite. Quando Eva come do fruto proibido, ela não só abre o entendimento para os pares de opostos (homem-mulher, vida-morte, etc...) como também se liberta da eternidade. É pela mulher que o homem vem ao mundo, é ela quem o traz para o mundo de dor. O mito deixa isso bem claro. Mas é, também, ela quem o liberta da condição animal.
O mito deixa outra mensagem: Adão e Eva devem retornar ao Jardim do Eden e se unirem a Deus, ou à Eternidade. E onde é o Eden? Jesus dá a pista: o paraíso é aqui - o "Reino dos Céus" está em vosso coração. Tornar-se novamente um em Deus (não 'com' Deus), sentir-se, como Jesus, não só Filho, mas Pai e Espírito Santo.
E aqui retorno a minha crítica aos "bons" e "justos": não são eles a maior objeção ao que ensinou Jesus? Não são eles um obstáculo para a compreensão metafórica do mito? um obstáculo entre Nós "e" Deus?
Um diz "é verdade", o outro diz "é mentira", ambos produtos da decadência, incapazes de compreender uma metáfora. A falta de sensibilidade poética é uma barreira para compreender parábolas, nem o mais crente hoje em dia levaria Jesus a sério. Um acreditaria em tudo o que ele diria, o outro pediria razões...