Conviver em amor
Eis nós aqui mais uma vez para conversarmos sobre amor! Esse tema tão inspirador, do qual originam-se mais e mais temas de maneira que quanto mais falamos dele, mais dele temos a falar. Um tema do coração. Que inspira poetas. Que encanta leitores. Que fascina navegantes. E atrai viajantes. O tema da vida. O tema do universo. Nosso tema!
No entanto, apesar de muitos de nós estarem tão atrelados a ele, achando que vivem um amor ou que o buscam por aí, o temos entendido de maneira equivocada, duvidosa. Temos confundido as coisas. Confundido amor com outras manifestações, com outras definições e, portanto, em nome da nossa ignorância em relação ao amor, não o temos vivido de verdade e, quando pensamos que sim, eis que a história se revela uma grande ilusão, gerando em nós frustração e aquela certeza de que estamos decididos a jamais desejar vivê-lo.
E dentre as confusões que fazemos, a de confundir carência com amor. Porque é o que cometemos. Temos, em nosso imaginário popular, aquela crença infantil de que o amor virá nos salvar das nossas angústias, das nossas tristezas, dos nossos traumas, das nossas dores, daquele vazio existencial que experimentamos dia após dia sem saber como preenchê-lo. Olhamos para fora e sonhamos com as soluções. Chegamos a considerar que se formos capazes de conquistar o afeto de alguém, então ele irá nos elevar até os céus e garantir a nossa redenção! Mas não é assim que funciona. Não podemos buscar no outro aquilo que falta dentro de nós. Porque esse vazio somente nós mesmos podemos preencher, quando despertarmos para as razões que o fizeram – e ainda o fazem – existir.
Aquela coisa de que somos a metade da laranja de alguém é uma grande ilusão. Pessoas aos pedaços não são capazes de gerarem um relacionamento saudável, maduro, agradável que seja satisfatório e enriquecedor a todos os envolvidos. Pelo contrário. Se, considerando-me incompleto e tendo a certeza de que só serei acabado se encontrar a metade que me falta, como experimentarei a plenitude se nunca, em ocasião alguma, conseguir me encontrar com essa tal metade? Como sobreviverei? Como experimentarei, com inteireza, as experiências da vida? Não dá. E não está dando. Para ninguém que deposita no outro a expectativa por uma vida completa.
Pessoas inteiras fazem os relacionamentos funcionarem. Isso porque não estão incompletas, com pedaços faltantes, com motivos para responsabilizar o outro pela falta com a qual convivem. Elas estão inteiras. Completas. E, somando sua completude com a completude do outro, agora dispõem-se a uma história de completudes, com situações acabadas, não deixando inacabado o que só elas poderiam completar.
Achar que é do outro que virá a solução que tanto esperamos é, além de inútil, injusto. Como posso responsabilizar o outro pela satisfação em minha própria existência? Só eu posso viver por mim tanto quanto só o outro pode viver por ele. Cada um vivendo por si, responsabilizando-se pela própria existência, então poderemos viver uns com os outros, ou, em outras palavras, é responsabilizando-nos pelos nossos passos que podemos conviver na longa estrada da vida.
(Texto de @Amilton.Jnior)