A imposição do belo

Vivemos uma imposição do que devemos consumir em todos os âmbitos de nossas vidas. A dominação de um único tipo de beleza, geralmente branca e de influência europeia, guia nossas mentes para as coisas que em sua essência são alinhadas e simétricas. Não existe espaço artístico para a imundície e o caos, como se não fizessem parte de nossa realidade. Essa visão acabou sendo uma ferramenta poderosa de manipulação das massas. Controlam nossos gostos para poderem controlar nossos passos e nossas mentes. No meio deste turbilhão de imposição estética, uma grande quantidade de conteúdo que é considerado “underground” fica fora dos olhos do público comum. Chamo de público comum, aquele que escolhe o conteúdo pelo que a maioria diz que deve ser consumido. A verdadeira batalha dos artistas está em quebrar essa redoma conceitual do normal, onde somente é valorizado aquilo que não gera ruído na mente do público. Outro desafio é o público passivo em busca de entretenimento, porque a arte não se faz com uma parte ativa e outra passiva. O público passivo não serve, o consumidor de arte precisa ser um membro ativo da composição assim como o artista precisa construir sua obra de maneira que possa pelo menos a um primeiro momento acolher a pessoa que está ali para ver sua obra, em outro momento colocamos o público em uma armadilha e sua mente se quebra, para poder renascer desfazendo assim, a separação do artista e do não artista. A separação do estado de arte e não arte é uma ilusão. Viver é um estado artístico com um único requisito, estar presente no que está fazendo. Com este simples ato, a magia acontece.

É preciso aprender a soltar a ilusão do controle. A arte torta é recusada porque ela quebra o processo alienado de: observação, catalogação, arquivamento e descarte. Este processo imposto ao cérebro é a grande prisão da humanidade que nos cega para as infinitas possibilidades de caminhos que a vida nos oferece. O Problema pelo menos para o sistema é que se as pessoas começam a viver a perspectiva livre do mundo, elas vão começar a viver mais para os seus hobbies do que para a produção do que é conveniente para a máquina capitalista. Estamos em um mundo onde aprendemos que o que tem valor é apenas o que se pode ter em suas mãos e de preferência que seja algo exclusivo. Algo que serve para alimentar o espírito não tem valor, sendo até mesmo taxado como algo perigoso.

Por isso é importante buscar se quebrar a cada dia. Andar por caminhos diferentes, escrever com a mão não dominante, escutar uma música de um estilo que você não conhecia, ver um filme paraguaio ou cozinhar algo saboroso sem tempero. Caímos muito facilmente na normalidade da massa. É preciso criar um ponto de referência do que é ser uma sociedade de indivíduos criativos a disposição para o serviço do bem ao próximo. Temos que nos libertar da prisão estética colonialista. Devolver a voz aos nossos ancestrais e igualar a importância dos pontos de vista. Ver o amor como algo primordial em assuntos importantes e que cada um possa ser o que sente em seu interior, sem se preocupar se seu manifestar está alinhado com o que a maioria considera normal. O alimento do espírito é tão importante quanto o alimento do corpo. O mundo ficará neste estado de conflito enquanto não houver uma verdadeira compreensão do quão problemático é o conceito de normal. A mudança está no expressar sincero. Seja a fonte que brilha em sua individualidade coletiva. Podemos voltar a nossa raiz natural, tortos e majestosos como as árvores, dando frutos sem buscar uma recompensa por isso, apenas sendo.

montezyin
Enviado por montezyin em 03/11/2022
Código do texto: T7641827
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