O xadrez da vida
Dizem que o xadrez é um jogo difícil..., mas como ser difícil se as regras são claras? Talvez o difícil seja ser estratégico!
A grande questão é que cada peça do xadrez tem uma função específica, e todas não podem se movimentar da mesma forma.
O interessante é que cada peça tem o seu grau de status nessa sociedade ‘tabuleira’, e nela se agrega o seu valor para definir a estratégia do ato ou do objetivo que se quer chegar...
Os peões geralmente estão à frente, e seu valor não é tão grande assim. Seu status só é conquistado quando ele consegue chegar no último nível de sua vida, onde se poderá galgar uma nova função.
No entanto, outras peças se movimentam com mais liberdade... Algumas só andam na ortogonal (horizontal e vertical), outras só na vertical; outra em todas as direções, e que parece ter um grande poder de decisão, mas só pode andar de casa em casa...
Mas existe aquela que pode se movimentar em todas as posições e em várias casas, e que adora ser reverenciada. Alguns a chamam de dama ou rainha, outros de Fer-de-lance. Mas o fato é que sendo rainha ou não, cada peça tem seu objetivo...
Os peões são sempre os degraus para que outros pisem...
As torres sempre em linha reta (ortogonal) buscam a oportunidade de fazer um roc.
Os bichos conseguem saltar até seus oponentes, encravando na surdina a ferradura patenteada. O cavalo abaixa a cabeça e obedece, estando sempre disponível às cargas diárias...
Pela diagonal, segue-se a oração da “intransparência”, tentando mostrar o que não é...
O rei, muitas vezes, torna-se ingênuo que não consegue enxergar os fluidos mortíferos da rainha, entrelaçado por seu poder de víbora...
As peças por si só falam de suas estratégias, ao imaginar ou ao pensar que não são percebidas por aqueles que conseguem fazer a leitura labial de seus pensamentos perversos.
Os semblantes dessas peças alteram-se com a mesma velocidade do seu caráter, quando se dão conta da covardia e da falta de dignidade; de não assumir uma postura com clareza e respeito em detrimento de outros... Ficam receosos quando o olhar da verdade instiga as suas ações...
Essas peças não se dão conta que se encontram no mesmo tabuleiro. O tabuleiro da vida...
A cada jogada, há possibilidade de uma verdade vir à tona, e do desfecho da máscara que já não consegue segurar a intransparência que se encontra em sua face.
Essas divagações do pensar não são ficções, são histórias da vida real que se registram em nossa memória, para que cada vez que tenhamos a oportunidade de olharmos para essas peças, não venhamos a esquecer o sentido de respeito e de dignidade, assim como o da liberdade de expressar o que sentimos...
O respeito, a dignidade e a liberdade não são frutos de uma condição de status, mas da conquista por pessoas verdadeiras que não se colocam à venda, nem buscam se estabelecer como moeda de troca.
Os semblantes dessas peças alteram-se constantemente, tentando-se refugiar no esconderijo do labirinto nefasto, criado numa “tentativa” de se tornar invisível ao outro, por não conseguir fitar os olhos com serenidade, por não conseguir estancar a hemorragia de fluídos desrespeitosos que saíram por seus poros ficando à vista de todos.
As tentativas foram em vão, pois a crise foi instalada, e o momento não se pode mais reverter...
A cada dia uma nova oportunidade para se jogar, e o xeque-mate da vida sempre estará no curso das ações humanas.
Recife, 29 de outubro de 2022.
Luiz Carlos Serpa