Nossos impactos
Lacan disse certa vez que nós podemos saber o que dissemos, mas não o que o outro escutou. Plena verdade. Pode ser que para nós tenhamos sido assertivos, honestos e francos em nosso discurso, tendo a melhor das intenções. Mas para o outro nossas palavras podem ter soado ásperas, duras, perfurantes. A responsabilidade é dele que não soube nos compreender? Ou a responsabilidade é nossa que não soubemos comunicar? Existe responsabilidade? Talvez, sim. talvez, não. Depende do contexto, das circunstâncias, da maneira como aquele diálogo transcorreu? Tive abertura para ouvir? Tive sensibilidade ao falar? Questões para as quais precisamos nos atentar quando diante de uma comunicação.
Mas para além do que fazemos com nossas palavras, e ainda na linha de raciocínio do psicanalista, quero propor uma reflexão inspirado no trecho de uma série que causou grande alvoroço quando foi lançada: Os treze porquês. Em um determinado trecho ouvimos o seguinte: “Ninguém sabe ao certo o impacto que causamos na vida dos outros”. E isso é profundamente forte. Você não tem ideia da importância que pode ter na vida de alguém. Eu não tenho noção do significado que minhas ações podem ter na existência de outra pessoa. Não sabemos com exatidão a magnitude de nossa influência sobre aqueles que nos cercam. Não uma influência no sentido de fazê-los adotarem comportamentos que ditamos. Mas no sentido de podermos causar em suas almas os mais diversos afetos: desde um amor profundo até um medo agonizante; desde um refrigério gostoso até um tormento paralisante. Já parou para pensar no impacto que você causa na vida das outras pessoas?
E agimos sem nem pensar. Sem levar em consideração que aqueles gestos, aquele comportamento, podem levar consigo uma grande carga de significados para quem o dirigimos. Podemos ser aqueles que curam, como podemos ser aqueles que ferem. Às vezes não é nossa intenção. Mas somos capazes de motivar lágrimas de euforia ou de pranto.
Fica ainda mais fácil entender isso quando falamos de amor. Ninguém parece perceber o fato de que, quando falamos em amor, podemos ser o motivo do riso de alguém, o motivo da sua felicidade, a razão por trás da sua alegria contagiante. Ao mesmo tempo em que temos o poder, bem em nossas mãos, de lhe oferecer o dia mais triste e nebuloso da sua história – basta que, por um gesto qualquer ou através de palavras cruéis, deixemos claros que o amor acabou. Quando falamos de amor podemos ser aqueles que constroem, mas também podemos ser aqueles que destroem. Eis o complexo paradoxo do amor!
Toque nas pessoas com mais sutileza e sensibilidade daqui por diante. Faça-se claro. E preocupe-se em saber se conseguiu tal proeza. Pergunte. Permita que as pessoas lhe digam o que entenderam a partir do que você fez ou falou. Corrija quando a mensagem acabou distorcida. Siga em paz quando o conteúdo chegou sem transformações. Entenda que você pode impactar a vida de muita gente mesmo em silêncio. Basta um olhar. Que seu impacto, se não puder ser encorajador, ao menos seja neutro, quase imperceptível, efêmero e passageiro. Mas sempre que puder impacte de boas maneiras. Há muita gente por aí precisando de ajuda para curar as feridas dos impactos dolorosos.
(Texto de @Amilton.Jnior)