Além do espelho
Depois de conviver tanto tempo comigo mesma, o mínimo que eu poderia esperar de mim é que me conhecesse. Mas qual!
Acho que não consigo penetrar no que reflito além da superfície do espelho, nem mergulhar nas águas turvas que vierem a refletir alguma imagem de mim.
Quero um tanto. Desejo o mundo. Porém acho que não acerto nunca o caminho e tenho dificuldade em retroceder, mesmo quando reconheço o erro.
Acho que o maior dos meus problemas é tentar reparar o que desconstruo, então apenas sigo sem olhar os rastros que deixo atrás de mim.
Eu juro que penso nas coisas antes de agir. Nem sei direito porque meus julgamentos sobre mim costumam ser tão nublados.
Depois, quando as nuvens se dissipam ou precipitam, me sobra uma espécie de ressaca nos olhos e nas consequências.
Apenas sigo. Só. E só eu sei o quanto esse espelho me pesa, fazendo cara de quem não me entende. Minha imagem, nessas horas, é difusa do real.
Meus olhos prescrutam os quatro cantos buscando enxergar o reflexo que às vezes parece fugir, enquanto bagunça minhas lembranças.
Quando enfim me vejo, olho meio de longe meu reflexo esquecido, como que em fuga, sem deixar a rotina me capturar como em fotografia.
Sigo incerta. Excerto de mim. Sem pensar em coisa alguma e tentando aprender o mistério de enfim me revelar, sem perder a cor e rindo de felicidade clandestina a preencher as lacunas de além do espelho…