FASES

Veja a menina chorona, tímida, medrosa.

Ainda não se reconhece, não sabe nada da vida.

Veja a menina acanhada, com poucos amigos.

Incompreendida, nos livros busca refúgio para sua introversão.

Veja a menina apaixonada, descobrindo amores e dores.

Perdida, entrega-se de corpo e alma, em busca de carinho e cuidado.

Veja a menina frustrada, por não ter atendido às expectativas, inclusive suas próprias.

Afogando-se num mar de acusações e incertezas, sem saber onde se segurar.

Veja a garota feliz, superando traumas, permitindo-se recomeçar.

Ergue a cabeça, levanta-se do chão e prepara-se para o novo.

Veja a jovem sonhadora, redescobrindo o amor sem medo, entregando-se sem reservas.

Um novo caminho, lindo e perfumado, aberto à sua frente.

Veja a mulher que gera, trazendo nova vida ao mundo.

Assume o papel de ser espelho e caminho, referência para uma nova geração.

Veja a mulher ferida, carregando o fardo da culpa e do medo.

Anula-se, culpa-se, ocupa-se e sobrecarrega-se de muitos mundos para esconder sua dor.

Veja a mulher se olhar, encarar sua alma primitiva e assustadora.

O impacto dessa descoberta de si é como a potência de um rio que modifica a paisagem por onde passa.

Veja a mulher que renasce, descobre novas certezas, forças antes desconhecidas.

Aquilo que parecia seu fim, tornou-se a força motriz para seu renascimento.

Veja a mulher se amar, vencer seus fantasmas e se livrar das armadilhas.

Quebrando jugos e amarras, liberta-se de si mesma.

Veja a mulher destemida, ousada.

Reconhece sua soberania e decide caminhar dançando, de cabeça erguida.

Veja a mulher selvagem, encontrando sua matilha, fortalecendo-se com suas origens.

Seu vigor vem desde o fundamento da Terra e não pode mais ser-lhe tirado, pois é sua mais pura essência.

Veja a mulher experiente, a que sabe, conhece os mistérios da vida.

Sua influência é repassada através de todas as fases da vida das mulheres ao seu redor.

Veja todas essas mulheres de fases, todas as fases dessas mulheres.

Seus modelos, suas estruturas, seus predadores, sua descoberta, sua ruptura e sua coragem.

Mulheres que correm, mesmo com medo, mesmo sem saber o percurso do rio.

Mulheres selvagens, voltadas para a vida que vem do seu ventre, sua própria energia vital.