Quarentena: O mal necessário?
Da janela do meu prédio contemplo a rua vazia, as calçadas da casa ao lado estão cheia de folhas secas que o vento como uma criança alegre as jogam para o alto com um sorriso em forma de redemoinho, além das folhas do chão ele arranca também as folhas das árvores como aquela brincadeira de bem-me-quer e mal-me-quer. Bem te quero, vento sopre meus cabelos brinque comigo e refresque meus pensamentos.
Olho para as casas ao lado e estão todas trancadas. Mesmo assim, consigo ver pela fresta de algumas janelas algumas cenas engraçadas, tristes e outras que me dão arrepio:
A menina brinca com uma bola rosa e acaba quebrando um vaso em uma estante, a mãe recolhe a bola, diz algumas palavras e criança fica quieta no canto.
Uma moça se olha no espelho, chora, troca de maquiagem inúmeras vezes e parece nunca estar contente.
Um rapaz magro e sem camisa faz diversas poses, mostra os músculos e parece decorrer diversas imaginações enquanto escolhe a roupa;
O marido diz algumas palavras, a mulher retruca e ele parece pegar uma faca, um bebê de aparentemente dois anos chora e põe fim a luta.
A fome que já existia aumenta ainda mais e o caos se aproxima de cada esquina, não importa a pessoa, cor, classe ou etnia.
Eu, que já sou consumido pelos anos tenho que esperar ajuda dos que têm mais resistência à doença. Ás vezes me falta o pão, meus filhos me abandonaram e eu não sei onde estão.
Alguns falsos bons, hipócritas poetas dizem que a epidemia veio unir as pessoas e estreitar os laços. Perdoem-me senhores sádicos! Uma doença que mata milhões de forma silenciosa não une ninguém aumenta a tensão e transtornos de outrem. A panela cheia de hoje é a panela vazia de amanhã. A morte é elementar mas não deve ser considerada como o mal necessário pois, o mal não é necessário, necessário são atitudes de bem de quem rega a vida com amor solidário.