Cesto de lixo

Acordos tácitos, velados. Um menininho que deve ser da mesma idade do meu filho, 5 anos, pula num cesto de lixo enferrujado, como quem brinca com um pula-pula no parquinho de diversões. Mas num parque assim tudo é trocado por moedas ou papéis. Ele não tinha nem um nem outro. Mas a cada esquina encontrava um bom cesto de lixo vazio (ou semi vazio) para fantasiar o seu mundo encantado de brinquedos desafiadores. Qual criança não possui o ímpeto de tornar o mundo o seu maior brinquedo? Das mais encorajadas às mais desencorajadas, todas elas buscam as aventuras da vida, descobrir seus corpos que crescem sem que nem sequer percebam. As crianças admiram a todos que cuidam dela, mesmo aqueles que não sejam dignos de sua admiração. São adultos... e o sonho de uma criança é se tornar adulto. Veja como uma criança olha para você e tenta imitar o que você faz… Veja como ela grita para mostrar que está aprendendo com você, adulto que ela tanto admira e deseja agradar. Veja como a criança corre em busca de descobrir a razão do viver, mas sem se saber buscadora, apenas vai. E para a criança o cesto de lixo enferrujado pode ser uma festa de grandiosas descobertas e aventuras. Aquele menininho parecia mais esperto do que eu, principalmente porque eu, adulta, mãe de um menininho tal qual ele, não pude fazer nada além de chorar, chorar pela miséria que nos afunda como seres humanos, chorar por não ter forças para mudar o que é o modus operandi, chorar por não fornecer a ele um lugar confortável, uma cama macia para dormir e um chazinho quente ao acordar, assim como faço para meu filho… E chorei por imaginar que vivemos neste mundo sob a égide da nossa própria raça humana, onde há milhares de crianças que ainda morrem de fome. De certa forma ele me trouxe uma mensagem muito importante: ainda há muito para ser feito. Os passarinhos continuam cantando, os carros rodopiam pelas ruas e, neste momento, muitas pessoas já começam a despertar. Ainda há esperança…