Antes que o vento leve

Tem dias que a gente acorda escutando aquele barulho lá dentro, no interior mais próximo daquilo que somos de verdade, clamando que toquemos nas estrelas, flutuemos sobre os mares mais profundos. Pedindo que desenhemos uma nova estrada no mapa com os nossos próprios pés. Conversando com borboletas no deserto de cores variadas para contar lá na frente que o tempo é curto demais para chegar no fim do horizonte.

E lá fora não importa, alguns não vão acreditar na gente e outros irão fingir que entenderam alguma coisa. Vão dizer das cores sem contrastes, do vento forte, das pegadas que a areia levou, da sede que tivemos de florescer num copo d’água, dos dedos calejados que as pisadas firmes exigiram, dos delírios de um selvagem que escondeu seus medos atrás dos olhos embranquecidos. Do amor que faltou, do tempo que não deu para curar as feridas, das paredes que não tinham para puder fechar os olhos sem medo dos sonhos.

Mas no final as dores são suas e de mais ninguém. É um espaço que duas pessoas jamais irão ocupar. Não é que a vida seja egoísta ou maldosa aos seus pares. Mas o que seria de nós se já soubéssemos de tudo antes mesmo de sentir o coração pulsar. Quem seria eu se eu soubesse dos meus erros antes mesmo de decidir qual o caminho trilhar.

As vezes eu abro o guarda roupa e tenho duvidas das peças que irei vestir, mas minutos depois da escolha eu me sinto como se todas as outras roupas que eu não escolhe, tiveram ali apenas como uma decoração. Como se aquele dia já tivesse sido definido antes mesmo de acontecer e isso não quer dizer que há o certo ou errado é o que simplesmente tinha que ser.

A gente que é bobo em muitos momentos que acha que manda na vida, mas na verdade ela que faz o nosso caminho, a gente só observa e sente nesse breve espaço de ilusão, que é esse tempinho de vida que passa, é o que a gente tem e não tem, que alguns chamam de atoa e outros a certeza dela.