As faces da intransparência
Todas as vezes que nos olhamos no espelho imaginamos enxergar aquilo que é real e concreto. Talvez essa seja uma fragilidade do que a gente imagina e do que a gente pensa, porque é simplesmente um reflexo que nem sempre se permite mergulhar em nosso interior... Um reflexo que nem sempre se traduz no que venha ser real à luz do pensamento... E é justamente nesse momento que o nosso pensamento entra em crise, por pensarmos que nos conhecemos, e nos fragilizamos por desconhecermos a nós mesmos...
Decerto que não se pode enxergar o que está dentro do outro, pois só conseguimos ter a percepção daquilo que está diante dos olhos, mas não se pode negar que cada um de nós é o mais capaz dos seres humanos para mergulhar dentro de si mesmo, e enxergar aquilo que não está ao alcance dos outros...
Mas nem sempre as pessoas conseguem esconder suas intenções ao suscitar olhares perniciosos ou mesmo palavras ingênuas, visto que não se dão conta de que seu semblante mudou, deixando de agir naturalmente sem se dar conta de que está sendo percebido aos que têm sensibilidade nas ações...
Todos esses tipos de atitude percorrem caminhos sinuosos para atingir seus objetivos mais escusos, e cada ambiente tende a dar a cartilha de seu comportamento...
No ambiente familiar, geralmente, existe a ideia ou a “falsa” ideia de uma sinceridade pelos significantes envolvidos pelos laços parentais, possibilitando, talvez, maior liberdade para dizer o que se pensa, quando se percebe que as ações demonstraram fragilidades de atitude perante o outro.
No entanto, no ambiente profissional, ficamos mais tolhidos a nos pronunciarmos diante às circunstâncias que o próprio ambiente nos põe à prova diariamente, para mostrar quem somos e qual o valor de nossa dignidade, perante o eu que existe dentro de nós e que nem sempre se projeta no reflexo do espelho; e o outro que ‘acredita’ em nossas atitudes e o espera que representássemos diante de situações que necessitam de tomadas de decisões.
A princípio, imaginamos que o respeito seja uma via de mão dupla, acreditando se encontrar em um mesmo cenário para todos, de modo que as ações que passamos a ter em nome de uma ética profissional sejam enquadradas no entendimento do todo. Mas nem sempre há clareza nas decisões, possibilitando a seus pares os benefícios de suas proposituras, chanceladas por seus superiores hierárquicos para a manutenção do status quo em detrimento de outros...
Neste momento, não me pergunte onde está o respeito ou a sinceridade, muito menos a dignidade que deveria estar envolvida, independentemente dos resultados obtidos, esperados ou não, pois, todos esses valores já foram desvanecidos, escorrendo-se pela trajetória do rio da lama para o encontro na vala de suas ações.
Nos perguntamos porque na maioria das vezes temos a frágil ideia de que a História se repete, já que o fato histórico é único, singular, possui uma temporalidade e sempre traz consequências?
Não é difícil se pensar porque os mesmos grupos se encontram sempre no poder, agregando os seus para desfrutar das mesmas regalias, independentemente de seu respeito para com os que muito trabalham e para com as Instituições que as representam: família, amigos, trabalho, etc...
Não creio que ainda estejamos vivendo à luz do velho faroeste americano, desafiando seus rivais para um duelo, a fim de provar qual o mais valente e mais habilidoso com o uso das armas...
Mas não seria anacrônico se pensar que a narrativa anterior faz jus a imaginarmos que a guerra ainda permanece, mesmo que não seja necessariamente com seus rivais, mas os que estão do seu lado.
Porém, não se pode olvidar de que as armas e as estratégias mudaram, mesmo que não exista de fato um duelo frente a frente, pois, as oportunidades muitas vezes se permitem que o tiro possa ser dado pelas costas.
Recife, 12 de outubro de 2022
Luiz Carlos Serpa