A flor desbotada
O amor é como uma flor desbotada. Há sofrimento, há dor, há extravagância de sentimentos. Mas não se pode só enxergar o lado colossal do amor. Devemos enxergar o que nos cega quando estamos apaixonados. Por mais que o amor e a paixão sejam sentinelas da alma, há momentos em que esquecemos do próprio eu indo de encontro ao acaso. Nas dúvidas que derrapamos nossas certezas firmamos um conceito, uma opinião, um ponto de vista peculiar. Nossos ideais são invertidos conforme mendigamos para o desnecessário. Haverá um dia em que as flores nascerão mais ricas, o povo mais solene, e os valores mais concretos. Haverá dias em que sentiremos a dor da hipocrisia tão combatida e ao mesmo tempo tão praticada. São contradições de uma vida qualquer. Com uma doença qualquer, com filhos, com esposa, com problemas sociais. Aí culpamos a polícia, os políticos, e nos deparamos com a falta de amparo. É...um dia também fomos racionais. A crítica fica a mercê de uma mídia que julga restabelecer-se a mercê do interesse público. O que há na realidade do dia-dia é conflito de interesses. Somos homens, somos mulheres, somos crianças, todos temos uma validade. Somos impostos à morte inúmeras vezes em nossa jornada fictícia. Brincamos de viver e quando estamos prestes a perder quem mais amamos nos damos conta de que a brincadeira acabou. A batalha deve começar e então o ciclo continua. Cada um julga extremamente necessário administrar-se para encher a barriga. Há aqueles que uma vez ou outra encheram suas barrigas. Talvez seja justo, talvez não. Talvez devemos dar linha ao conformismo inanimado. Nossos anseios ficam escondidos atrás da pétala de rosas que esmagamos ao pisar no chão. Não temos objetivos porque achamos que objetivos são para os que têm condições. Não podemos difamar nossa sabedoria por preguiça. A onda é gigante, porém mergulhável. Agindo de acordo com nossa atualidade só iremos nos afogar. E sendo assim, também chegará o dia em nos faltará ar para reagir.
Não esconda o seu amor. Ele mais do que nunca, pode ser a salvação dos seus dias de glória. É importante não esquecermos de aprender, e para isso independe de idade, de cor, de sexo, de opção sexual. Deveríamos aprender uns com os outros e dizer que isso ocorre é andar para trás, ascender um cigarro, desperdiçar água, jogar lixo na rua. Deveríamos também aprender a amar. Mas temos medo de nos iludir, aí não podemos amar. Quanta ignorância. Olho ao meu redor e me decepciono. Proporciono-me prazer acreditando que posso ser feliz assim. É verdade que certa vez fui feliz. Mas foi tão pouco e tão rápido. Eu que desejei a força divina em minhas intervenções, mal sabia que eu a possuía. Nós a possuímos. E poucos a usam. O labirinto é grande e com uma única saída, se perder, é natural. Os olhos famintos não conseguirão jamais esconder a solidez da prepotência e da ganância. É dever do ser humano admitir os seus erros e seus pecados. E é justamente por isso que poucos, muito poucos, são capazes de enxergá-los.
A polidez com que usamos argumentos é tão fútil quanto a nossa existência. Desta forma mantemos nossas injustiças acreditando sermos éticos. Se cada um descobrisse que pode ser melhor do que demonstra talvez o nosso planeta tivesse mais camada ozônio. Mais civilidade. Mais sorrisos. Nossas atitudes maléficas são facilmente absorvidas como uma leveza estúpida. Preocupamos-nos com o campeonato de futebol, roupas de marca, baladas “imperdíveis”, objetos tecnológicos da moda, o carro do ano, em arranjar namorado urgente porque não conseguimos ficar sozinhos um só instante. Somos tão bons que esquecemos de nós mesmos. Vivemos assim porque nascemos assim. Para quê mudar? Chegará o dia em que minha flor desbotada me ensinará a viver. E espero que não seja tarde para aprender a amar.