O perdão sincero

Há poucos dias conversamos por aqui acerca da imperfeição de nossos relacionamentos, consegue se lembrar? E é isso mesmo. Problemas sempre surgirão. Conflitos sempre acontecerão. Palavras sempre serão mal pronunciadas ou mal recebidas. Somos diferentes. Temos visões diferentes. O que para mim não tem importância, para o outro pode significar a razão da sua vida. E por essa falta de tato, em tantos momentos, acabamos falhando quando mais queríamos acertar.

A boa notícia, como conversamos naquela reflexão, é que podemos melhorar enquanto pessoas, logo, podemos também melhorar as nossas relações com aqueles e aquelas que amamos! Basta nos dispormos a isso. Basta nos entregarmos à arte do amor! (Sobre isso leia A Arte de Amar, de Erich Fromm).

Erramos. E lamentamos. “Não queria ter feito aquilo”, pensamos; “Não era para eu ter dado aquela resposta”, ruminamos; “Não queria ter ofendido”, nos culpamos. Arrependidos, vamos àquele que sente a dor do nosso ataque (afinal, somos amados por ele, nossas ações têm valor afetivo e emocional!). Humildes, reconhecemos o nosso erro e pedimos perdão (se você não faz isso quando reconhece o seu erro, está perdendo tempo... a vida é tão curta... não perca mais tempo permitindo que abismos se coloquem entre você e quem importa). Ainda que arisco, aquela pessoa nos olha, às vezes dá um sorriso contrariado, e diz que nos perdoa. Mas apena diz. Porque internamente, dentro de si, fica repetindo as palavras que ouviu, os gestos que assistiu, as expressões que o assustaram. Não perdoa de fato. Não consegue perdoar.

Então o meu convite hoje, naquela mesma linha da construção do relacionamento saudável, é para que você analise a si próprio quando, sendo vítima de uma discussão, dispõem-se a perdoar aquele que o ofendeu. Seu perdão é sincero? Você, naquele momento, está mesmo em condições de perdoar? O perdão não é como uma borracha que passamos por sobre aquele parágrafo triste no capítulo da nossa história. O perdão é mais como uma vírgula, ou um ponto, para que a frase tome rumos distintos ou um novo parágrafo possa ser iniciado.

É preferível que, ao não conseguir perdoar, você o diga. Muitos de nossos relacionamentos acabam tragicamente porque não falamos. Parece que nos perdemos da arte do dialogar. Parece que desaprendemos a conversar! Temos uma dádiva que os outros seres não possuem. Podemos verbalizar, construir sentenças, expressar sentimentos através de tantas e belas palavras. Por isso as use. Diga quando estiver difícil. Diga quando não se sente pronto ou pronta para seguir em frente. Diga quando precisar de um tempo. Diga quando, mesmo ansioso ou ansiosa por resolver as coisas, ainda ter mágoas dificultando que seu coração torne a se abrir. A sinceridade nos salvaria de finalizações dramáticas.

Estamos combinados, então? Não há problema em não conseguir perdoar quando essa for a sua vontade. Precisamos respeitar os nossos limites, reconhecer as nossas fronteiras. Às vezes precisamos de um tempo maior para assimilar o que nos aconteceu, como estamos nos sentindo e o que esperamos daqui para frente. Respeite isso. E respeite o outro. Acalme seu coração. E, então, tente abri-lo.

(Texto escrito por @Amilton.Jnior)