O que não vemos

Relacionamentos. Podem ser perfeitos? Podem acontecer como naqueles desenhos infantis que acompanhávamos sem desgrudar os olhos da TV? Ou poderiam acontecer conforme narram as novelas quando, em seus últimos capítulos, os protagonistas enfim terminam juntos em algo que se assemelha ao “feliz para sempre”? Por que são tão difíceis? Por que não acontecem como nos filmes ou seriados? Por que não podemos ter uma vida como aquela contada nos livros?

Simples. Porque somos humanos.

Relacionamentos perfeitos não existem, assim como contos de fadas. E a explicação é bem simples. Somos imperfeitos. Como poderíamos esperar que nossas criações fossem perfeitas? Nossas imaginações podem ser cheias de maravilha e esplendor, como aquela produção que há dias ocupa o posto de campeã de bilheteria! Mas nossas imaginações, sendo criadas por mentes imperfeitas, ignoram as tantas variáveis que permeiam a vida, apresentam-se ao longo do nosso caminho e fazem da ideal perfeição algo impossível de alcançar.

Então, conversado sobre a imperfeição de nossos relacionamentos, precisamos conversar sobre a possibilidade de os tornarmos os mais saudáveis possíveis. Porque isso, ao contrário da perfeição, é perfeitamente atingível. Mas preste atenção. Estou falando de um relacionamento saudável, agradável, satisfatório, e não de uma relação perfeita, sem conflitos, sem confrontos. Vamos entender?

Se por um lado não somos perfeitos, por outro somos completamente melhoráveis. Não ilimitadamente, como nos fazem acreditar por aí. Temos nossas fronteiras, até onde podemos realmente ir, mas, sim, podemos melhorar a cada dia e aprender um pouco mais sobre nós e sobre os outros – afinal, há bilhões de universos circundando o nosso.

Logo, se podemos melhorar enquanto seres humanos, podemos, também, melhorar as nossas criações (mas não torná-las perfeitas, quero que você grave essa informação). Podemos melhorar nosso desempenho no trabalho, nosso rendimento no esporte, nosso nível intelectual (até o ponto que nos sentirmos satisfeitos, não para impressionarmos a uma plateia de insatisfeitos, tome nota sobre isso também). Assim sendo, podemos melhorar nossos relacionamentos com as outras pessoas, sejam elas nossos filhos, pais, amigos, colegas de trabalho ou aquelas que escolhemos para amar pela eternidade (aquele sonho dos contos de fadas que, infelizmente, também não se concretiza).

Por mais que amemos aqueles que convivem conosco, lembremo-nos, somos humanos, frágeis, falhos e erramos com eles. Mesmo quando queremos acertar, falhamos. Às vezes por coisas inevitáveis da vida, mas em tantas outras por ignorância e desatenção nossas. Por isso quero trazer um ponto hoje que talvez ajude você a desenvolver um relacionamento mais saudável com as pessoas que importam.

Uma das maiores reclamações que dirigimos às pessoas ao nosso redor é acerca daquilo que elas não fizeram. Concorda? Pense um pouco. Talvez hoje mesmo tenha acontecido com você quando, assim que seu filho adolescente saiu para ir à escola, você entrou no quarto dele e encontrou a cama desarrumada. “Esse garoto não aprende!”, você pode ter resmungado. E, talvez, quando ele voltou da aula, a primeira coisa que você fez foi reclamar da cama bagunçada.

Concordo que camas bagunçadas não são agradáveis. Também tenho problemas com isso, confesso.

Mas a questão aqui é que esse é apenas um exemplo. Uma hora é a cama que não arrumam, na outra é a louça que não lavam, depois são os telefonemas que não nos fazem, e ainda reclamamos das flores que não recebemos. Mas é impossível que as pessoas nunca façam ao menos uma coisinha para tornar melhor o nosso dia. E a gente, se quiser mesmo desenvolver relacionamentos saudáveis, precisa procurar ativamente por esses pequenos detalhes.

Meu convite hoje é para que você preste atenção naquilo que ainda não viu. Sabe aquele filho adolescente que não arruma a cama? Talvez ele tenha levado o lixo na rua antes de sair, mas você só conseguiu ver o que ele não fez. Sabe aquele marido sempre tão desatento? Talvez ele tenha deixado o café pronto para você saborear, mas você só conseguiu ver o que ele não fez. Sabe aquela mãe que não deixou você almoçar na casa da sua amiga porque seus avós iriam visitá-los? Por todos esses anos ela tem feito o melhor para preencher seu guarda-roupa com as peças da moda, mas você só conseguiu ver o que ela não fez.

Esperamos coisas grandiosas das pessoas, ou melhor, esperamos que delas recebamos o cumprimento de nossos desejos, e acabamos desconsiderando seus gestos pequenos, porém significativos, que nos fazem falta quando deixam de ser feitos. Veja-os. E valorize-os.

Mas acima de tudo, fale sobre seus desejos.

Talvez você não tenha lembrado seu filho adolescente, sonolento, correndo por estar atrasado, que ele precisa arrumar a cama antes de sair. Talvez você não tenha falado ao seu esposo que gostaria que ele lhe desse mais atenção. E talvez você não tenha conversado com a sua mãe sobre a importância que aquela amiga tem para você e que talvez poderia convidá-la para o almoço com seus avós.

É óbvio, mas mesmo o óbvio precisa ser dito: as pessoas não têm bola de cristal. Diga a elas o que você precisa. E quem sabe elas possam atendê-lo?

(Texto de @Amilton.Jnior)