A nossa impermanência
A vida é impermanente. Apegar-nos ao que está fadado a passar é o que causa o nosso sofrimento. Porque tudo passa. Por melhor que seja. Por mais significativo que nos pareça. Tudo que veio, vai. E não voltará. De maneira que sempre há coisas novas chegando e coisas antigas partindo. Porque tudo na vida é passageiro, por vezes efêmeros, como as estações do ano que aquecem e esfriam, colorem e apagam, fazem o tempo passar.
E se tudo na vida é impermanente, tenho um recado a dar a você. Nós também somos! Completamente mutáveis, passíveis de transformação, vulneráveis – e até tendenciosos – à mudança. Um mudança por vezes interna, no nosso jeito de ser. Uma mudança também externa, nas posições que ocupamos. De maneira que um belo dia despertamos e sentimos que naquele lugar no qual estamos já não nos sentimos tão confortáveis como antes. É como se não nos servisse mais. É como se aquilo que um dia fizera tanto sentido perdera o significado, como se nunca o tivesse tido. E as razões são duas: se tudo é impermanente, o ambiente ao nosso redor também muda, e o que nos atraía agora já passou. Por outro lado, sendo nós também impermanentes, o ambiente pode continuar o mesmo, mas já não atende às necessidades novas que surgiram em nosso interior modificado, transformado, renovado. De maneira que o que antes era confortável, agora não o é. Porque tudo muda.
Precisamos aceitar a mutabilidade das coisas.
Porque é só aceitando aquilo que passou, que nos permitiremos àquilo que vem.
O fato é que tantos de nós se apegam a ideias rígidas e inflexíveis de si mesmos. Definem-se pelo “é” e ignoram o “estar sendo”. Porque é isso o que somos, quero dizer, estamos sempre sendo algo que não é fixo, nem eterno, mas completamente impermanente.
E isso nos assusta. Gostamos dos padrões, das rotinas, das previsibilidades. Sentimos certo conforto na aparente sensação de controle sobre aquilo que vivemos. Mas note o que escrevi. “Aparente sensação de controle”. Porque na realidade das coisas temos controle sobre absolutamente nada. Então para quê resistir à passagem das coisas? Disse o poeta que quem não faz a travessia fica para sempre à margem de si mesmo. O que quer dizer ficar à margem? Quer dizer evitar o mergulho. E sabe o que significa evitar o mergulho? Impedir-se de descobertas incríveis, aventuras inebriantes, conhecimentos profundos sobre nós e sobre a vida!
Você não é imutável. Você não é eternamente permanente. Você é passageiro. Não apenas no sentido absoluto da coisa, naquele que nos traz a certeza do ponto final em nossas histórias. Só que antes do ponto final, há tantos outros pontos que precisamos colocar no livro da vida para que parágrafos, sentenças e capítulos novos comecem e nos aproximem de uma vida realizada, vivida, desfrutada!
Aceite o passar das coisas. Mas não apenas aceite. Passe junto com elas. Mas não apenas com elas. Passe nelas. Não deixe a vida passar simplesmente. Passe pela vida. Sinta-a. E se transforme com ela. Aproveite as coisas boas enquanto elas durarem. Não se apegue. Outras virão. E só serão usufruídas plenamente se você estiver aberto e livre para tal!
(Texto de @Amilton.Jnior)