LUTO É NA VERDADE O EXPERIMENTO PRIMEIRO DA NOSSA MORTE, PORQUE NELE NOS DAMOS CONTA DE QUE JÁ NÃO EXISTIMOS
A vida é um sopro. Numa manhã falamos e a tarde, tememos a perda de um amigo, de alguém que faz sentido e tem importância para nós.
Podemos brigar, virar a cara, mas a essência humana é latente diante de casos como esse. Ou realmente não nos importamos, como muitas vezes falamos na hora da raiva, ou nosso chão se abre sob nossos pés, escurecendo os céus e a alma invadida de angústias.
Por fim, entendemos a jocosidade das palavras, que nem sempre refletem a real natureza de suas ações. E é nessa hora que nos damos conta que perder dói demasiado.
Hoje não é um bom dia pra perder alguém, aliás, não há um dia pra isso, mas alguns são anteriormente importantes para marcar tamanha perda. Portanto, nesse sentido, o que ensejamos é que esse dia se engane e atrase por décadas o inevitável da condição humana.
Valorizar alguém não significa pactuar de seus delírios e elocubrações algumas vezes vis e hostis, mas é, e sobretudo, é, enxergar além do pano da desordem e vislumbrar a grandeza do ser.
Acredito que o diálogo interno se faz necessário, embora muitas vezes, calamo-nos a nós mesmos, na ânsia de não ouvirmo-nos culpados e em algum sentido, castigados pelas palavras que nunca tiveram verdades em suas atuações.
Presumo, logo eu, que a dor da perda é, em última instância, a dor de si mesmo. É violentar a própria carne, açoitando-a desgraçadamente. E nada dói mais que essa consciência de si.
A verdade é uma: Devemos amar e expressar em ações esse amor. Discussões há, intrigas há, mas seja amizade ou relacionamento, importa que mais que problemas, aprendamos a buscar soluções.
Há uma frase que diz: "Se vis pacem parabellum"... (Se quer/deseja paz, prepare-se para a guerra.); E direi a você que a maior guerra é contra nosso orgulho, nossa vaidade impermeável.... Que à primeira oportunidade de ser violada, se arma e agride antecipadamente.
Por fim, não sei se o luto é caminho pacífico para quem quer desconstruir dores vividas. Não se resume a um sofrimento, mas a perda essencial de quem somos, do que fomos e, agora, da impossibilidade de ser visto pelo outro ...
Luto é na verdade o experimento primeiro da nossa morte, porque nele nos damos conta de que já não existimos no telefone do outro, já não podemos chamar, pedir socorro ou fugir para os braços da pessoa. Luto é o drama mais próximo da morte, porque nele não só choramos a perda, seja física ou emocional de alguém, mas também vivenciamos a angústia de nunca mais pertencer.
F.Fidelis.