fotografia e chuva
chegando na portaria do meu antigo prédio, no apartamento em que tantas vezes eu me sentia em casa, hoje eu perambulo pelo ambiente em que tudo me lembra você. hoje o céu amanheceu nublado e já agora no fim da tarde a chuva veio lavar as dores do mundo. eu corri, mas alguns pingos salpicaram na minha roupa. cheguei na portaria e fiquei observando a rua, seus passantes que corriam para pegar seus veículos, abriam o guarda-chuva, colocavam a capa de chuva. tentando se proteger do evento da natureza que remete à tristeza. enquanto eu hesitava voltar para o apartamento, resolvi tirar umas fotos. através da lente da minha câmera, o mundo parece mais lento, com seus habitantes gravitando em suas rotinas exaustivas e bloqueando emoções. um jovem casal entrou em meu campo de visão. eles se apertavam para caber dentro do mesmo guarda-chuva, como se fossem um corpo só – que é o que almejamos ao conhecer o amor da nossa vida e prometemos na frente de um padre no altar. seguiam em frente, sorrindo, perdidos no olhar um do outro. em um momento, o vento arrastou o guarda-chuva, o que os fez se molharem. e eles riram. riam e pulavam, brincando como crianças em dia de chuva, despreocupadamente. buscaram o guarda-chuva e se aconchegaram novamente. essa cena me alegrou profundamente. o riso, algo que havia esquecido, voltou aos meus lábios. talvez o amor seja um pouco isso. essa brincadeira singela entre duas pessoas que se divertem juntos. essa troca de olhares com a pessoa da sua vida. estar debaixo do mesmo guarda-chuva em meio ao tempo incerto e a força da natureza implacável seguindo em frente numa caminhada só.