Quando a união faz a arte
Meus ombros caídos sofrem pela raiva, pela sede e a morte do justo. Busco a luz represada atrás do sistema opressor que manipula as massas em busca do seu lucro pessoal. Ao meu lado, soldados caem enquanto outros, apesar de suas feridas, seguem pelo front sem temor. É preciso encontrar em meio ao lodo nossos irmãos que não compactuam com a sujeira. Quero deixar um mundo melhor para as futuras gerações, mesmo sabendo que as soluções de curto prazo já não cabem e o que resta é a sofrência da alma pela injustiça.
A verdade por trás dos palcos não se compara nem com o maior dos dramas já escritos, gerações de artistas largados a própria sorte, morrendo nas sarjetas onde até mesmo os ratos têm mais dignidade, não que os ratos não mereçam, mas algum valor há de ter as lagrimas não vistas de nossos artistas ancestrais. Os filhos expulsos de casa por seguirem seus sonhos serão um dia honrados, não com uma coroa, mais com a liberdade e com a inclusão do povo através de seu legado, em um tempo onde não será mais necessário máscaras e nem filtros, um tempo onde a arte e a espiritualidade ocupará o vazio interno de cada um. O serviço estará no lugar da ambição, a música no lugar dos gritos de fome e o abraço no lugar das guerras.
Me chamem de sonhador, lunático ou bobo da corte. Não sou o primeiro a carregar a bandeira dos dias melhores nem o último a ser baleado em defesa do olhar sútil. Minha vida na terra é apenas um momento, mas minha história é muito mais antiga e meu caminho vai além da morte física. Enquanto meu tempo for este, tenham minhas mãos quando as suas forças faltarem, meus ouvidos para quando precisarem ser escutados e meu grito quando seu folego faltar. A família das artes é uma família, a maioria se esqueceu disso. Injetaram o pensamento competitivo e individual em nosso expressar. Nosso ofício é totalmente o oposto deste modelo, compramos a ideia errada como a ovelha que confia no lobo, a metáfora é um simples clichê, mas seus efeitos são catastróficos. Na busca de sermos reconhecidos vendemos nossas almas em mercados de pulgas. A exploração está em todo lugar, se você é preto, gordo, gay, mulher, tem nariz grande ou simplesmente é você mesmo, sabe o que é estar no papel do explorado taxado de minoria.
Não se esqueçam. Somos muitos, apenas fomos separados.
Por isso convoco aos desarmados e todo aquele que possui um último suspiro de esperança, para através da força desta egrégora poderosa possamos imantar nossa família e que apesar do cansaço e das dores possamos continuar, que nossos filhos possam ter um fardo menor, assim como nossa geração teve graças as lagrimas e batalhas travadas por aqueles que caminharam antes de nós. A todos os mestres e mestras peço as suas bençãos e que o encontro real das almas possa se dar um dia em um mundo mais justo, cheio de som, cores, toques gentis e respeito á liberdade.