De uma frase de Hugo de São Vitor
Na sua página, de uma rede social, o professor de História Medieval, Ricardo da Costa, reproduziu uma frase de Hugo de São Vitor: "Não ter vergonha de aprender com qualquer um.", extraída de Didascálion - Da Arte de Ler, obra máxima do filósofo cristão.
Não li de Hugo de São de Vitor - e penitencio-me - nenhum livro; da obra dele conheço alguns trechos, poucos, e comentários elogiosos que a ele fez o professor e filósofo brasileiro Olavo de Carvalho, cujo passamento se deu neste ano de 2.023.
A frase, citada pelo professor e historiador Ricardo da Costa, de quem li vários artigos, publicados em seu site, onde encontrei textos completos de Ramon Llull, ou Raimundo Lúlio, simplória, conserva uma lição preciosa de humildade cristã. Preciosa de tão simples. E é uma verdade verdadeira: podemos aprender, com qualquer pessoa, seja a pessoa um ancião, um adulto, um jovem, uma criança, da vida coisas valiosas, que nos ajudam a viver melhor, e a melhor compreender as pessoas, e a nós mesmos. Uma pessoa, no desejo de aprender a dirigir um carro, pode recorrer a alguém que saiba dirigir carros, independentemente se tal pessoa a quem se recorreu tenha ou não diplomas escolares, se é rico ou pobre, se alfabetizado ou não, se ostenta ou não título de doutor; se uma pessoa deseja aprender hidráulica, ou metalurgia, ou serralheria, ou marcenaria, ou ciências jurídicas, ou qualquer outro campo de estudos, práticos ou teóricos, ela pode buscar as pessoas que sabem do riscado, experientes, tarimbadas, sem ver-lhes os títulos, as contas bancárias, o boletim escolar oficial. O conhecimento é de quem o possui, e não de quem, não o possuindo, exibe um documento que supostamente atesta o conhecimento declarado.
Numa época, a nossa, quando as pessoas, em busca de conhecimento, incorretamente entende que é dele a fonte a pessoa que tem diplomas e títulos, e não o conhecimento em si, a lição, de tão simples, preciosa, de Hugo de São Vitor, soa tal qual um segredo místico, um mistério esotérico, cujo acesso só é possível pelos iniciados nas escolas de feitiçaria e magia, e feitiçarias e magias negras, diabólicas. Em outras palavras, conserva a lição de Hugo de São Vitor o mais simples, o sempiterno bom-senso, hoje em dia tão judiado, tão odiado, tão maldito pelos pensadores de cabeça cheia de caraminholas, carambolas e caranguejos revolucionários.